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Citricultura quer mudança na legislação de sanidade

Entidades do setor e produtores rurais pedem apoio do governo para financiar manejo adequado das plantas e controlar infestaçõesOs citricultores de São Paulo querem mudanças na legislação sobre o cancro cítrico. A lei determina a erradicação dos pomares que apresentam a doença. A Câmara Setorial da Citricultura acredita que é possível controlar o problema sem ter que eliminar as árvores. Enquanto isso, os produtores seguem arrancando todas as plantas doentes. 

Uma área em Guariroba, distrito do município de Taquaritinga, no interior de São Paulo, tinha um pomar de tangerina. Agora está vazia e vai ter que ficar assim por mais dois anos. As plantas estavam contaminadas com o cancro cítrico e precisaram ser cortadas. Hamilton Balista, dono da propriedade, seguiu o que determina a legislação.

Durante a reportagem do Canal Rural, quase nenhum produtor quis aparecer ou tocar no assunto do cancro cítrico. A maioria já erradicou a doença, mas eles dizem ter medo de algum tipo de retaliação da Defesa Agropecuária do estado. Balista foi o único que aceitou conversar com a equipe.

– (Custou) na faixa de R$ 40 a R$ 50 mil. Eu erradiquei 1800 pés de morgote na faixa de dois anos. Eu erradiquei e toquei fogo. Aí eu eliminei o cancro cítrico – conta.

O cancro cítrico pegou o produtor de surpresa:

– Eu nunca tinha visto, nem conhecia o que era cancro cítrico. Aí eu fiquei meio apavorado, porque eu tenho vários pomares aí pra cima. Então, eu peguei e erradiquei e taquei fogo pra doença não passar pros outros pomares – relata ele.

O produtor faz inspeções constantes nas plantas que sobraram e segue os cuidados com a doença nos outros pomares. A recomendação para evitar disseminação é desinfetar veículos e materiais utilizados na colheita, por exemplo. O cancro só afetou 30% dos talhões do sítio do produtor. Mas ele diz que é preciso mais acompanhamento dos órgãos responsáveis, como o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).

– Eles não dão mais apoio aos produtores. Faz seis, sete anos que eles nem visitam mais os produtores. Então, esses tempos atrás, que eles faziam vistoria em todos os pomares, a hora que eles achavam um pé de cancro cítrico, erradicava – relembra Balista. 

A região é a maior produtora de limão do estado de São Paulo. Os prejuízos para a cultura por causa do cancro foram altos nos últimos anos, tanto que o setor pede mudanças na lei. Caso não ocorram, os produtores podem entrar com uma ação na Justiça para pedir indenização pelos prejuízos sofridos com a erradicação das plantas.

Segundo eles, é possível controlar o cancro cítrico com o uso de cobre na plantação, como medida de proteção e, assim, conviver com a doença nos pomares. O advogado que orienta os produtores neste caso, Laerte Biazotti, espera que o governo do estado reveja sua posição.

– É necessário equilíbrio, bom senso e profundo diálogo. É necessidade que o poder público tenha capacidade de dialogar com o produtor rural. Estou dialogando com a Secretaria, eu tenho certeza absoluta que até o próximo dia 25, em Cordeirópolis, o secretário, com toda equipe sanitária do estado de São Paulo, vai rever sua posição e vai passar a conviver com monitoramento. Isso é o meu pedido, o produtor não quer a indenização, quer continuar plantando, quer continuar vendendo, participar do comércio – defende Biazotti.

O Fundecitrus disse, por nota, que existia um convênio entre o fundo e a Defesa Agropecuária do estado para inspeções até 2009.Desde então, a entidade passou a apoiar o citricultor por meio de informações geradas pelo seu centro de pesquisa, além de oferecer assistência técnica e treinamentos gratuitos para inspeção e erradicação das plantas doentes. O Fundecitrus lembra que, pela nova legislação, essa tarefa passou a ser incumbência do citricultor.

Reunião em Brasília

Em uma reunião hoje, em Brasília (DF), a Câmara Setorial da Citricultura pediu que o Ministério da Agricultura acelere a regulamentação dos métodos de defesa para manter o cancro cítrico sob controle, de acordo com a realidade de cada região do país.

Mais renda para investir mais em manejo é o que pedem as lideranças de citrus. Enquanto nos Estados Unidos os produtores estão recebendo cerca de US$ 14 pela caixa, no Brasil a remuneração não chega a US$ 5. 

– O produtor vem há muitos anos sem renda suficiente para manter os seus pomares, e principalmente para enfrentar os desafios das doenças fitossanitários que a citricultura está enfrentando, então estamos vendo uma exclusão dos pequenos e médios citricultores e a produção concentrada cada vez mais das indústrias. Uma melhor renda para o produtor, para que isso seja um mecanismo de defesa da citricultura, o produtor sem recurso e sem motivação nunca vai tratar de uma maneira eficiente os seus pomares e vai colocar em risco o restante da citricultura brasileira – alerta o presidente da Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus), Flavio Viegas.

Além de atualizar os números de safra, a Câmara Setorial busca pressionar o governo do estado de São Paulo para mudar a legislação sobre o cancro cítrico. Eles pedem também que o Ministério da Agricultura acelere a regulamentação da defesa sanitária. Técnicos e associações que antes defendiam a chamada supressão das plantas para erradicar a doença, agora querem o controle através do manejo.

O conceito mudou porque a incidência do cancro cítrico que estava sob controle entre 0,1% e 0,2% passou para até 5% dos talhões de laranja em São Paulo. Com esse nível de infestação, o controle pode ser até cinco vezes mais barato do que simplesmente arrancar as plantas afetadas. 

– Nós estamos no aguardo ainda do governo federal, para que se adeque às distintas situações do país, que essa legislação mais ágil, mais inteligente, para que a gente tenha sucesso no controle da doença nas diferentes situações – afirma Juliano Ayres, gerente geral do Fundecitrus.

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