Pelo terceiro ano consecutivo, a cafeicultura brasileira encerra a safra com produção abaixo do esperado. O clima prejudicou o desenvolvimento das lavouras e a qualidade dos grãos. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o país finaliza a safra 2015 com produção de 43,2 milhões de sacas de café, 5,3% a menos em relação à temporada anterior. Apesar disso, as exportações devem registrar novo recorde. A expectativa é superar 36 milhões de sacas embarcadas.
Clima desfavorável
O clima castigou a cultura: em São Paulo, Espírito Santo e parte de Minas Gerais, a seca dificultou o plantio, algumas áreas ficaram mais de 30 dias sem receber chuvas. Por outro lado, o excesso de umidade prejudicou a outra parte do estado mineiro, principal produtor de café do país, onde a colheita só foi finalizada na segunda quinzena de julho. Dados divulgados pela Conab apontam que a produção foi de 23 milhões de sacas no estado, 2% a menos em relação à safra anterior.
A produtividade média nacional foi de 23 sacas por hectare, 3,4% a menos em comparação com o ciclo passado. A área de plantio se manteve estável, totalizando 2,200 milhões de hectares.
“É o maior volume de áreas novas que a série histórica mostra. Isso nos dá o indicativo de que as safras poderão ser recompostas ou melhoradas, claro que as condições climáticas fazem parte desse cenário. Estamos com El Niño severo, cujo declínio só deve chegar a ser percebido em março e abril. São momentos cruciais para o desenvolvimento da lavoura do café”, destaca o secretário de Política Agrícola da Conab, João Marcelo Intini.
Pouco crédito
A queda na produção não foi o único problema dos cafeicultores. A falta de crédito atrasou a compra de insumos e aumentou o custo de produção. O produtor Kássio Fonseca relatou que só conseguiu comprar os produtos 50 dias após o término da colheita. A demora custou caro ao produtor. Ele conta que gastou em média 25% a mais com inseticidas e adubos.
O presidente da Associação de Cafeicultores da Região de Patrocínio (Acarpa), Marcelo Queiroz, diz que o atraso preocupou o setor.
“A florada tem a necessidade da adubação para ter um bom ‘pegamento’. Por isso precisa de todos os tratos para estar preparada e com um bom suporte para a planta produzir bem”, reforça.
Dólar
Se por um lado o dólar elevou o custo de produção, por outro a valorização da moeda americana facilitou as vendas do produto no mercado externo. De janeiro a novembro deste ano, o país exportou 33,5 milhões de sacas de café, 1% a mais em relação ao mesmo período do ano passado. Até o fim de 2015, a expectativa é superar 36 milhões de sacas exportadas e registrar um novo recorde.
“Se nós olharmos os cafés diferenciados, temos um incremento na exportação de 11%. O Brasil está produzindo e exportando mais qualidade em comparação com o ano passado. O rendimento do café teve uma redução em razão de menores grãos. Nós acreditamos que esse mercado diferenciado vai precisar se ajustar também a essas condições climáticas”, diz o diretor técnico da Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CeCafé), Eduardo Heron.
Expectativa 2016
As floradas em agosto e setembro foram boas nas principais regiões produtoras do grão no país, e a produção nacional deve voltar a crescer. Segundo o superintendente da Cooperativa de Cafeicultores do Cerrado Mineiro (Expocaccer), Sérgio Geraldo Dornelas da Silva, a expectativa para 2016 é positiva.
“O cenário da próxima safra é de uma equalização da oferta e demanda, e normalização dos preços. Eu não acredito que volte aos níveis dos últimos dois anos, quando ficou abaixo de R$ 400, pois o custo de produção vem subindo nos últimos anos, o que acaba comprometendo em termos de custo na nossa região”, conclui.