A alta repentina de 50% no preço do milho ameaça as cadeias produtivas de aves e suínos de Santa Catarina. O estado é o maior consumidor do grão e importa o produto de regiões como Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Produtores e agroindústrias catarinenses estão aflitos e se mobilizando para que as dificuldades financeiras não tomem as proporções da crise de 2012, quando milhares de criadores quebraram.
O presidente da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio Luiz de Lorenzi, explica que a situação é agravada devido à alta do dólar, que incentiva a exportação. “Nós exportamos no ano passado um grande volume de milho e farelo de soja. Isso faz com que o produtor pague muito caro, inviabilizando a produção neste momento”, diz. Outro motivo seria a grande produção interna em contraste com a diminuição da demanda, fazendo com que o preço da carne caísse, principalmente no início do ano, enquanto os custos subiam.
Ricardo Coldebella tem uma unidade produtora de leitões desmamados e afirma que consegue se manter por contar com uma produtividade boa e mão de obra familiar. Porém, ele afirma que outro segredo é ter mais uma fonte de renda. “Eu acho que é difícil sobreviver em algumas épocas quando se vive só da suinocultura”.
De acordo com o produtor, de julho de 2015 até o começo deste ano, as contas que antes estavam controladas entraram no limite. Além do aumento dos custos de produção, 30% em seis meses, a granja recebe R$ 2,50 a menos pelo quilo do leitão vivo. Coldebella afirma que atualmente tem “lucro zero” com a granja.
O super encarecimento do milho, combinado à fraca demanda interna, principalmente da carne suína, obrigou até a Aurora, maior cooperativa de alimentos do país, a readequar o volume de produção. Pelo menos um setor, em cada uma das oito plantas, está parado, representando 5% dos funcionários em férias coletivas forçadas. “Nós podemos dizer que a atividade, operacionalmente falando, já está ingressando no vermelho”, aponta Neivor Canton, vice-presidente da Aurora alimentos.
Em Santa Catarina, as cadeias produtivas de aves e suínos empregam juntas 150 mil trabalhadores. Em vista da relevância da agroindústria no estado, representantes do governo estadual e entidades ligadas aos setores reivindicaram a liberação de mais milho de balcão em silos da Conab e medidas rápidas para capitalizar o produtor.
O presidente da ACCS diz que também foram pedidos “refinanciamento de matrizes, linha de crédito em longo prazo e outras linhas de crédito para alguns frigoríficos”. Lorenzi também reclamou da quantidade de toneladas de milho disponibilizada por produtor. “Fica inviável buscar apenas seis toneladas de grãos por produtor numa região mais distante, onde eles estão estocados, então que sejam colocadas cerca de 25, 30 toneladas por mês por produtor”, reivindica.
Outro apelo das cadeias produtivas é a retomada emergencial de projetos que tornem mais baratos os custos logísticos das atividades. Estima-se que R$ 5 bilhões sejam gastos em fretes, para subsidiar as 100 mil viagens de carretas necessárias todos os anos para buscar o milho que abastece a agroindústria catarinense
O vice-presidente da Aurora também pede que o governo ajude a “salvar os setores que sustentam o país”. Ele enfatiza que “abandonar a agroindústria, o agronegócio hoje seria decretar o processo de quebra dessa nação”.