Crise atinge o agro em 2016, mas China traz boas expectativas para 2017

Setor produtivo, que foi afetado pelo mau momento da economia brasileira neste ano, pode agora se beneficiar com a continuidade das exportações de alimentos para o país asiático

Fonte: Pixabay

A crise econômica se agravou em 2016, dando destaque para temas como inflação, desemprego, alta do dólar e taxa de juros. E até mesmo o setor agropecuário, que até então vinha resistindo ao mau momento da economia brasileira, acabou sendo prejudicado. Mas o mercado internacional –, especialmente a China – traz boas perspectivas para 2017.

A inflação começou alta em 2016, com acumulado anual na casa de 10%. Mas, com o passar dos meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou. Em novembro, a inflação mensal oficial ficou em 0,18%, e o acumulado em 12 meses ficou em 6,99%. Mesmo com índices melhores do que inicialmente esperados, a inflação atingiu em cheio a população. Pior para a agroindústria, que teve aumento de custos, especialmente com a alta no preço do milho, mas não conseguiu repassar essa conta para o consumidor final.

O analista de mercado César Castro Alves, da Consultoria MB Agro, afirma, no entanto, que as margens voltem a se equilibrar com custos mais baixos. “Foi um ano difícil. Para o ano que vem, a economia pode melhorar um pouquinho, mas os custos devem cair bastante”, acredita.

Os juros altos são usados para conter o consumo e controlar a inflação. Com o índice de preços em queda, o Banco Central começou a reduzir a taxa básica de juros no país (Selic). Nas reuniões de novembro e dezembro, o comitê de Política Monetária diminuiu a taxa que serve de base para as operações de crédito. Desde meados de 2015, a sSelic estava em 14,25% ao ano; atualmente, os juros estão em 13,75% ao ano. Economistas acreditam que a taxa deve continuar em queda no país. A expectativa do mercado é de que a Selic termine 2017 por volta de 10,5% ao ano.

PIB brasileiro se retraiu por 10 vezes consecutivas, péssimo resultado para a economia

PIB

Se a queda dos juros é uma boa notícia, a retração do Produto Interno Bruto (PIB) por dez vezes consecutivas é um péssimo resultado para a economia brasileira. No terceiro trimestre, o recuo do PIB foi de 2,9% em relação ao mesmo período de 2015. No acumulado de 2016, a queda da atividade econômica é de 4,4%. O PIB da agropecuária também está negativo: no terceiro trimestre do ano, a queda em relação a 2015 foi de 6%. Em um ano, a retração do setor é de 5,6%.

A expectativa do mercado financeiro é de que a queda do PIB brasileiro em 2016 seja próxima a 3,5%. Mas os investidores estão mais otimistas, e acreditam que a taxa volte a subir cerca de 0,5% em 2017. 

O vice-diretor Faculdade de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), Luiz Alberto Machado, sustenta que, apesar da crise, o investidor estrangeiro continua se fazendo presente no país. “O problema é que o investidor (nacional) não tem coragem. Tem muito brasileiro indo buscar oportunidade lá fora porque não confia no que está acontecendo aqui dentro”, diz.

Uma das explicações para a retração da atividade econômica é o aumento do desemprego. No último levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação é de quase 12%. Na agropecuária, houve redução de 5% no número de trabalhadores em 2016 – quase 500 mil empregos a menos na atividade.

Machado afirma que, como o desemprego está alto, as taxas vão demorar a reagir quando a economia melhorar. “Isso não vai acontecer em 2017. Vamos ter um ano difícil, com economia estagnada. A única coisa que nós temos de positivo é uma tendência de queda da inflação”, diz o vice-diretor.

Dólar

O dólar comercial começou 2016 cotado acima de R$ 4. O valor máximo do câmbio chegou a R$ 4,16 ainda em janeiro. Em outubro, o valor da moeda americana atingiu a mínima de R$ 3,10. Em novembro, após a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, o dólar voltou a subir.

César Castro Alves lembra que, no primeiro semestre, o câmbio levou as exportações a um ritmo forte, assim como no ano anterior, sobretudo no caso do milho. “(Também) Valeu para as carnes, que começaram muito aquecidas nas exportações. Só que, ao longo do ano, como o câmbio foi ficando pior, a gente viu estas exportações perderem força.” 

Perspectivas

Para 2017, a expectativa é de que a cotação média do dólar comercial fique em R$ 3,40. A boa notícia do mercado externo é que a demanda da China por produtos brasileiros deve continuar forte. Luiz Alberto Machado, da Faap, diz que o país asiático não apresenta mais o patamar de crescimento registrado até 2009, mas ainda cresce a uma taxa anual de 6,5%, que seria um resultado muito favorável. 

Segundo o vice-diretor da faculdade, a evolução da economia chinesa seria decorrente do fortalecimento do setor de serviços e do consumo das famílias, enquanto a crise ali teria se acentuado na construção civil e na indústria.

“Para o exportador de alimentos, de commodities, a situação está favorável, porque você continua tendo migração do campo para a cidade na China, a produção local está diminuindo ainda mais e eles dependem de alimentos. E vão continuar importando”, afirma Machado.