O produtor rural brasileiro tem recorrido cada vez mais a financiamentos alternativos para poder produzir. Em tempos de difícil acesso ao crédito rural nos bancos, o governo estuda incentivar a captação no mercado de capitais através de Certificados Recebíveis do Agronegócio (CRA), ativo regulamentado no Brasil em 2004. Segundo o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura à época da decisão, Ivan Wedekin, os certificados abriram novas possibilidades às cadeias do agronegócio, que utilizam o ativo financeiro para antecipar recursos que só seriam recebidos após a entrega dos produtos.
– Ele [CRA] faz parte de um conjunto de títulos com o objetivo de criar um sistema de financiamento privado do agronegócio, complementar ao sistema nacional de crédito rural, que é dirigido pelo governo. Então ele é um mecanismo de mercado, e o CRA pode sair em operações de R$ 100 milhões, R$ 200 milhões, R$ 500 milhões. Portanto, com um volume desses pode financiar uma parcela importante da agricultura brasileira – disse.
A possibilidade de captar grandes quantias com prazos extensos de pagamento tem atraído o agricultor brasileiro, que se mostra cada vez mais interessado pelos títulos de crédito privado. Segundo a Cetip, a maior depositária de títulos privados da América Latina, de janeiro a agosto deste ano, a captação de recursos através de CRA atingiu R$ 2 bilhões.
– Está acessível a todos os produtores [o CRA]. Claro que é uma estrutura complexa de você montar, porque você precisa garantir que aquele título seja atrativo para o investidor. Por isso, você precisa montar toda a estrutura de garantias, não é um título que você consegue montar da noite para o dia – afirmou o diretor- executivo da Unidade de Títulos e Valores Imobiliários da Cetip, Carlos Ratto.
Hoje em dia, dez anos após a criação do CRA, uma comissão formada por entidades do setor, representantes do mercado de capitais e autoridades do governo federal discute a possibilidade de emitir os títulos de acordo com a cotação do dólar.
– Estamos tentando reduzir o custo de captação de recurso, através de CPRs [Cédula de Produto Rural] lastreadas em dólar e que possa ser atrelada ao título de Certidão de Recebíveis do Agronegócio [CRA]. Isso reduziria sensivelmente esse custo de captação, que hoje é de 17%, para menos de 1%. O investidor estrangeiro tem apetite para investir no Brasil, mas ele não tem esse ambiente institucional que precisa o Conselho Monetário Nacional [CMN] regular, o Banco Central [BC], para permitir que esse dinheiro chegue direto ao produtor. Essa seria uma medida muito importante pra nós nesse momento – disse o diretor-executivo da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Brasil (Aprosoja), Fabrício Rosa.
Como a alta do dólar vem beneficiando, principalmente os produtores que exportam commodities cotadas pela bolsa de Nova Iorque, quem entende de financiamento agrícola garante que a proposta de indexar ao dólar os certificados recebíveis do agronegócio, deve dar ainda mais credibilidade à agricultura brasileira diante do comércio internacional.
– O título pode ser comprado por qualquer investidor desde que a operação de compra seja feita aqui no Brasil, portanto é mais uma avenida que esperamos que seja de sucesso pro crescimento do agronegócio no país – afirmou Ivan Wedekin.