Economia

Dólar fecha acima de R$ 4,30 pela primeira vez; veja os motivos

Para Miguel Daoud, alta histórica prejudica o pequeno e médio agricultor que não compõem a renda exportando produtos

O dólar comercial fechou em alta de 0,83% no mercado à vista, cotado a R$ 4,3220 para venda, renovando máxima histórica acima de R$ 4,30 pela primeira vez na história. A moeda bateu máximas atrás de máximas ao longo do dia acompanhando o exterior onde a divisa estrangeira ganhou terreno frente às principais moedas pares e de países emergentes. Na semana, a moeda se valorizou em 0,81%. 

 O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca a pressão altista do dólar no exterior influenciado pelo relatório de empregos dos Estados Unidos, o payroll, no qual apontou a criação de 225 mil vagas em janeiro. “O forte relatório ajudou a manter a força do dólar no mundo ao longo da sessão com a divisa registrando altas sequenciais”, comenta.

Para o economista Gesner Oliveira, essa alta vem porque a moeda norte-americana gera segurança aos investidores. “Nós temos um efeito de incerteza na economia que gera valorização do dólar. É como se as pessoas procurassem um porto seguro em uma moeda mais forte, o que eleva o preço”, disse.

Gesner frisa que essa alta é nominal e não considera a inflação.”Na comparação com um pico que ocorreu em outubro de 2002, considerando a inflação, seria como se o dólar estivesse a R$ 7,05. Desse ponto de vista, ainda estamos do que já enfrentamos em 2002”, completou.

Para o comentarista do Canal Rural, Miguel Daoud, ao voltarmos a atenção para o setor agropecuário, a volatilidade pode ser uma má notícia para o pequeno agricultor. “A maioria dos produtores é beneficiada pelo câmbio, pois eles produzem e vendem no mercado interno. Com a alta do dólar, ocorre o inverso do que ocorre com os que exportam. Quem não exporta, sofre com o aumento dos custos tanto na lavoura como na indústria”, disse.

Segundo ele, no entanto, essa alta leva um certo tempo para ser sentida efetivamente no campo. “Nos últimos anos, o produtor brasileiro teve uma demanda muito grande para China, mas essa realidade vem mudando. Não dá para ficar esperando muito as mudanças no cenário, pois há riscos de variáveis que aparecem e ninguém consegue prever, como esse coronavírus, por exemplo”, completou Daoud.

Máxima histórica 

Sobre as máximas históricas, o economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito, ressalta que não é o real que está fraco e sim o dólar que está forte. “Numa situação como essa, há pouco o que o Banco Central [BC] possa fazer a não ser deixar sangrar reservas, o que não nos parece ser o caso nem o desejo da autoridade monetária”, diz sobre a ausência de intervenções no mercado cambial.  

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, pondera que se observa um movimento de desvalorização do real junto com outras moedas. Diante disso, o Banco Central deverá ser “parcimonioso e esperar” mais um pouco antes de alguma atuação.  

Perfeito acrescenta que em um cenário com déficit na balança comercial, juros no menor patamar da história e com a saída de investidores estrangeiros do mercado de ações brasileiro, será “crucial” observar a reação do BC. “Quando se trata de câmbio, vale no geral aquela estratégia militar: não se recua um exército nem tão rápido que pareça covardia, nem tão devagar que pareça provocação”, salienta.

 No ano, o real é a segunda moeda que mais se desvalorizou frente ao dólar, 6,78% até o momento. Em contrapartida, o peso mexicano, moeda par da moeda local, tem valorização ao redor de 0,90%. Na esteira dos dados do payroll e da forte valorização da moeda norte-americana, a equipe econômica do Rabobank explica que ganhos mais recentes foram impulsionados por uma “onda” de dados da economia dos Estados Unidos melhores do que o esperado. “Na medida em que isso coincidiu com algumas decepções econômicas”, avaliam. 

Na próxima semana, a agenda de indicadores mais pesada deverá contribuir para os rumos da moeda. Aqui, o destaque fica para a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada nesta semana, no qual o mercado deve buscar justificativas para a decisão de promover o quinto corte seguido da taxa básica de juros (Selic) – a 4,25% ao ano, diz a equipe econômica do Bradesco.  

Sobre os indicadores, as atenções se voltam aos números de vendas no varejo e de serviços, além do IBC-Br – números de dezembro – que devem dar uma visão “mais clara” sobre o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre, ressaltam os economistas do banco. Lá fora, tem os dados de atividade e de inflação nos Estados Unidos no mês passado.