As incertezas na política econômica brasileira têm causado volatilidade no mercado cambial. Diante de um cenário duvidoso, o mercado de grãos está sem liquidez, o que pode comprometer o escoamento da segunda safra de milho. Analistas afirmam que as mudanças nas cotações do dólar também vão prejudicar a venda de insumos.
Na última quinta-feira, dia 7, o dólar chegou a ser cotado a R$ 3,96, maior valor desde fevereiro de 2016. Após forte atuação do Banco Central, que injetou US$ 20 bilhões no mercado por meio de operações de swap cambial, a moeda americana teve desvalorização de 5% e fechou a semana cotada a R$ 3,60.
Para o economista Roberto Troster, o cenário é reflexo de dois fatores: “O primeiro são as indefinições da política econômica do atual e do futuro governo. Apenas no último mês, R$ 5 bilhões saíram do país por conta disso. E a segunda é por conta da estrutura do mercado de câmbio. Você tem um mercado de câmbio à vista antiquado. A lei cambial é de 1933”.
Para o analista chefe da Rico Investimentos, Roberto Indech, o cenário atual torna impossível prever qual vai ser o patamar do dólar nos próximos meses. Segundo ele, a volatilidade da moeda americana vai seguir até a definição das eleições.
“Diante da imprevisibilidade do cenário eleitoral, um cenário muito indefinido ainda, muito em aberto, essa oscilação toda pode continuar dessa forma até o final de outubro pelo menos, quando teremos um candidato eleito pelo voto popular. E ainda vai depender de quais medidas esse candidato colocará para adoção no próximo governo”, afirma o analista.
A volatilidade da moeda americana e a indefinição da tabela do preço mínimo do frete rodoviário travaram o mercado de grãos. Analistas afirmam que o momento não é oportuno tanto para venda de produtos como para compra de insumos
Aédson Pereira, analista de mercado da Informa Economics, explica que a indefinição no preço do frete tirou a referência do mercado de grãos. Segundo ele, se o cenário persistir nas próximas semanas, o escoamento da segunda safra do milho pode ser prejudicado.
“Você já está entrando com maquinário no campo para retirar a produção, há contratos com cotações fixadas e você precisa dar vazão a esse produto. A grande questão é se esses contratos foram fixados a preços anteriores ou se a tabela vai impactar os preços que podem definir o volume de milho que vai sair do Brasil”, diz Pereira.
A volatilidade do dólar também travou o mercado de insumos e pode afetar o planejamento da próxima safra: “Havia um fluxo significativo de comercialização já para a safra 2018/2019 aqui no Brasil. As vendas de fertilizantes estavam em níveis recordes até maio ou abril. O produtor correu atrás de programar o pacote tecnológico em função da relação de troca favorável. E todo esse cenário foi minado em função dessa ausência de compradores”, analisa Pereira.
“O agricultor fica incerto. Assim, ele fica com medo de comprar insumo com dólar caro e ter que vender a produção com dólar barato. Na dúvida, ele não planta. Segundo: se ele tem dívidas em dólar, não sabe o quanto vai pagar”, afirma Indech.