A polarização estabelecida na corrida eleitoral da presidência da Câmara dos Deputados também atingiu os membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Somente na diretoria da bancada, enquanto o atual presidente, deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), e o presidente eleito para a próxima gestão, deputado federal Sérgio Souza (MDB-PR) manifestaram apoio ao candidato Baleia Rossi (MDB-SP); o vice-presidente Evair Melo (PP-ES) e os coordenadores Pedro Lupion (DEM-PR), Neri Geller (PP-MT) e Aline Sleutjes (PSL-PR) são favoráveis à eleição de Arthur Lira (PP-AL).
Apesar das posições pessoas divergentes, e motivadas por questões partidárias, os diretores garantem que essa divisão não afeta os trabalhos desenvolvidos pela frente parlamentar. Em conversa com o Canal Rural, tanto Alceu Moreira quanto Sérgio Souza lembraram que os dois candidatos à presidência são membros da bancada e são sensíveis à temas agropecuários.
“Nós vamos conversar, enquanto frente parlamentar, com os dois candidatos para apresentar as pautas prioritárias do agro. Só não conversamos ainda porque estamos em recesso e tem a pandemia. Mas os dois são sócios da FPA e tem sensibilidade com o tema”, pontuou Moreira.
“Uma coisa que caracteriza as frentes parlamentares é o multipartidarismo. As frentes militam em temas, não em ideologias políticas ou composição do poder. A frente não é do governo ou contra o governo, a frente vota nas pautas pelas quais ela milita. Para a frente, não interessa quem é o presidente da Câmara, ela vai votar nas pautas”, reforçou o deputado federal Evair Melo, vice-líder do governo na Câmara.
Tensão com Bolsonaro
Ao manifestar apoio público à Baleia Rossi, no último domingo, 10, o presidente da bancada do agro se viu em meio a uma polêmica com o presidente da República Jair Bolsonaro. Baleia Rossi é o candidato indicado pelo atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, para sucedê-lo no comando da casa. Maia e Bolsonaro são adversários políticos.
Em busca de um aliado no comando da Câmara, o presidente da República apoia a candidatura de Arthur Lira. Ao tomar conhecimento da manifestação de apoio de Moreira à Baleia Rossi, Bolsonaro teria compreendido que esse é o posicionamento da bancada do agro. O ex-parlamentar manifestou sua insatisfação publicamente nesta segunda e terça-feira.
“O campo nunca teve um tratamento tão justo e honesto como teve comigo. (…) Pelo amor de deus, o que eu fiz pro campo? O campo está bombando e o pessoal do campo tem que estar comigo e é o mínimo de razoabilidade que eu peço para eles para a gente poder levar as nossas pautas para frente”, cobrou Bolsonaro.
De acordo com o deputado Neri Geller, na tarde de terça-feira, o deputado Evair Melo foi ao Palácio do Planalto conversar com Bolsonaro e expor que a posição pessoal de Alceu Moreira não representa a intenção de voto dos mais de 200 parlamentares que integram a FPA.
“Evair ontem foi no Planalto pra pacificar isso, para dizer que a grande maioria está com ele [Bolsonaro] e que temos que ter compreensão do posicionamento dos líderes. O Alceu Moreira é um grande defensor de pautas do governo também. Alceu esteve junto na Reforma da Previdência, na trincheira do governo, por exemplo. Este assunto está superado”, amenizou Geller.
Para Melo, a reação de Bolsonaro teria sinais positivos. “O presidente fez a manifestação legítima de um homem no calor do sentimento, mas ele é um homem do parlamento e também entende o processo político. O que ficou de positivo pra nós foi essa manifestação de carinho e compromisso do presidente com o agro. Tipo assim: mexeu com o agro, mexeu com ele. Ele não vai admitir em hipótese alguma retroceder na nossa agenda e ele, inclusive, está cobrando unidade de nós respeitando o contraditório que é essa questão partidária”.
Em entrevista ao Canal Rural, Moreira reafirmou que sua intenção de voto se trata de manifestação pessoal. “Quando estou falando da presidência da Câmara, eu não falo como presidente da FPA, porque na FPA há posições para ambos os lados: tanto para Arthur Lira, quanto Baleia Rossi. O Baleia Rossi é presidente nacional do meu partido e no Rio Grande do Sul, estado em que fui eleito deputado federal, eu sou o presidente do MDB. Nada mais coerente do que apoiar o presidente do meu partido à presidência da Câmara”.
“Agora, colocar como se nós devêssemos ao presidente obediência porque o agro brasileiro está dando certo… Não. A ação do Bolsonaro foi muito importante, a ação da frente parlamentar foi muito importante, a ação da Tereza Cristina foi muito importante, mas a mais importante foi a da sua excelência, o produtor rural, pela sua qualidade e competência”, contra-atacou Moreira.