O clima colaborou com o desempenho das lavouras e 2017 foi um ano em que a agricultura pôde comemorar uma boa produtividade, principalmente na safra de grãos. O meteorologista da Somar Celso Oliveira explica que, pensando ainda na primavera de 2016, as chuvas se regularizaram muito rápido no Brasil, permitindo uma instalação muito precoce da soja no Paraná e Mato Grosso.
“Com isso, a colheita dessa área foi feita de forma antecipada e a instalação da segunda safra de milho também. Esse safrinha conseguiu se beneficiar das chuvas que caíram no final do verão e início do outono”, diz Oliveira.
O La Niña, fenômeno conhecido por levar mais chuvas ao Nordeste, não frustrou os produtores do Sul. Pelo contrário, em alguns momentos os volumes chegaram em excesso no Rio Grande do Sul. Em janeiro, o excedente de chuvas provocou o rompimento de um açude na cidade de Rolante, nordeste do estado. Animais foram mortos com a enxurrada e as plantações sofreram com o temporal.
“A gente ouvia o gado passando e berrando. Estava muito escuro e não dava para ver o leito do rio. Era desesperador porque os animais não conseguiam parar, pois não tinha mais chão. Virou um aguaceiro que trazia tudo que vinha pela frente”, relembra a industriária Carmen Ross.
Em Campo Novo do Parecis (MT), uma cratera se abriu no meio de uma lavoura por causa do excesso de chuva. Entre a primeira e a segunda quinzena de fevereiro choveu 330 milímetros na região, o que atrapalhou tanto a retirada da soja dos campos quanto o desenvolvimento inicial de algumas lavouras de milho segunda safra.
Pedra e vento deixou a árvore assim: quebrou e arrancou no meio. Só restaram as contas para pagar
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Em março, as chuvas ainda castigavam o Sul do país. Produtores acumularam prejuizos com as pastagens e lavouras de fumo. “Pedra e vento deixou a árvore assim: quebrou e arrancou no meio. Só restaram as contas para pagar”, disse o fumicultor Sílvio Rios.
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Do verão para o outono, passamos a ter neutralidade climática no oceano Pacífico equatorial. No geral, o inverno foi mais quente e seco do que o normal, o que foi péssimo para as culturas de inverno. Para o trigo, o problema foram as geadas tardias que prejudicaram o cereal em setembro, quase na época da colheita.
No sudeste, o que chamou bastante a atenção foi o longo período de estiagem. Plantações de hortaliças e pastagens em São Paulo chegaram a ficar cinco meses sem chuva significativa; e o café do sul de minas teve uma florada frustrada.
“Volume bem abaixo do normal entre janeiro, fevereiro e março. Nós tivemos um longo período de frio que causou muita desfolha no café”, conta o cafeicultor José Mauro Reis.
A primavera, que já é a estação mais instável de todas, apresentou um agravante: a volta do La Niña, que atrasou a instalação das lavouras de verão. O produtor precisou de cautela para plantar a safra 2017/2018, principalmente entre o norte de Mato Grosso, Goiás e Tocantins. A estação acabou sendo mais quente do que o normal. Algumas regiões do Centro-Oeste precisaram fazer o replantio pela falta de umidade, sendo que Goiás foi o último estado a receber chuvas.
A partir de novembro, as pancadas passaram a ser mais bem distribuídas por todo o interior do Brasil, até mesmo para região do Matopiba, formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Já para o Rio Grande do Sul, a falta de chuva já se mostrou evidente desde o fim de outubro em algumas áreas do estado. Fato que já traz prejuízos para a soja e para o arroz.
Segundo o meteorologista da Somar, agora no verão 2017/2018, temos uma diferença justamente na temperatura do oceano pacífico. “Todo o pacífico está mais frio, inclusive com desvios de temperatura mais baixos do que os registrados no início de 2017. É o resultado de um fenômeno La Niña clássico com efeitos clássicos, ou seja, as chuvas estão mais fracas principalmente na fronteira do rio grande do sul com o uruguai e a argentina”, diz.
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Para 2018, a expectativa é que o La Niña se estenda até o início do outono, trazendo consequências para a colheita que pode enfrentar alguns excessos de chuva principalmente no Matopiba. Depois disso, neutralidade climática no oceano pacífico equatorial.
“Os efeitos serão mais percebidos entre o Nordeste e o Norte, principalmente entre o final do verão e início do outono. Nos anos de La Niña, a Zona de Convergência Intertropical, uma instabilidade que atua pela costa norte do país, ganha intensidade e a expectativa é de chuvas acima da média, especialmente entre os meses de março e abril. No Sul, Sudeste e Centro-Oeste, vamos perceber um efeito mais modesto do fenômeno”, explica Celso Oliveira.
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