Preocupados com a previsão de estiagem severa na entressafra, as principais entidades do agronegócio de Mato Grosso promovem ações de prevenção e orientação contra o mal uso do fogo no estado. A iniciativa quer evitar prejuízos com incêndios no campo.
Nesta época, a massa de ar quente e seca ganha força no estado, enquanto a baixa umidade do solo deixa o setor apreensivo.”Tivemos uma seca bastante severa o ano passado e a preocupação é como também vai ser a seca deste ano. Isso aí causa duas preocupações: primeiro quanto a produção agropecuária que depende basicamente do regime de chuva regular e outras, como os incêndios que ocorrem, pois temos um crescimento vegetativo exuberante e, quando chega no período seco, se transforma em uma grande massa seca de fácil combustão e esses incêndios florestais acabam se alastrando porque, em áreas isoladas, como as fazendas, é difícil o combate aos incêndios”, disse o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Normando Corral.
O excesso de matéria seca acumulada da porteira para fora também preocupa e exige atenção redobrada. “Hoje, na agropecuária moderna, não tem mais a prática de fogo e queimadas em restos. A gente precisa de cobertura vegetal para que se faça plantio direto, precisa de cobertura vegetal para que se faça suplementação bovinas ou gado a pasto e, como temos que prevenir isso, nós sabemos de onde normalmente vem os incêndios e dou um exemplo as faixas de domínios nas beiras das rodovias, que são os grandes focos de início de incêndios na zona rural, porque aquilo é uma terra praticamente de ninguém, nem o produtor rural pode fazer ali qualquer tipo de cultivo e nem as estradas, principalmente que não são pedagiadas. (…) Dali pulou a cerca e é propriedade, e o produtor tenta combater o incêndio, embora ele tenha tomado todos os cuidados para que aquilo não ocorresse”, disse Corral.
O diretor-técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Francisco Manzi, diz que é preciso de união da população urbana, com a rural e o poder público para diminuir os prejuízos dos incêndios. “É um prejuízo muito grande, com perda do patrimônio. Sofrem os animais silvestres do Pantanal, o próprio rebanho, matrizes que perderam seus bezerros, bezerros que perderam suas mães e também o caso mais grave de uma vida como a do zootecnista lá de Cáceres que acabou perdendo sua vida na tentativa de um controle de incêndio”, disse.
Manzi está falando do zootecnista Luciano da Silva Beijo, 36 anos, que morreu ao tentar apagar um incêndio em uma fazenda em Cáceres. Relatos apontam que uma rajada de vento repentina acabou fazendo o fogo se alastrar de maneira descontrolada durante o combate.
Lucas Costa Beber, vice-presidente da Aprosoja de Mato Grosso diz que, apesar de muitos atribuírem os problemas das queimadas aos produtores, esses incêndios prejudicam principalmente quem precisa da terra para sobreviver. “A gente tem perda e degradação, aí da questão de fertilizantes, principalmente potássio, no solo, então o produtor tende onde tem uma queimada colher menos durante três até cinco anos, podendo variar de cinco a dez sacas por hectare de perda de produtividade”, explicou.
Segundo Beber, é preciso ter atenção e fazer os aceiros nas lavouras, principalmente quem tem nas beiras das rodovias e de estradas com tráfego maior. Para reforçar a conscientização, outras iniciativas também incorporam o programa de prevenção e combate a incêndio nas áreas rurais. “A acrimat vem fazendo um trabalho intenso, divulgando cartilhas para o produtor, para que faça aceiro, para que tomem cuidado”, disse Manzi
Informação
“Temos através de um ente federado, que é o Senar, junto ao Corpo de Bombeiros, ações para que a gente treine não só os produtores mas para quem a eles trabalham, não só para que não ocorra os incêndios, para que se antecipe isso no combate a incêndios, caso ocorra”, disse Normando Corral.
“E a Aprosoja todo ano promove a campanha anti-queimadas, onde ela faz treinamento para brigadistas e parcerias com os bombeiros, por meio de materiais como vídeos e cartilhas que são distribuídos para os produtores e a sociedade”, completou Beber.
O tenente-coronel Jusciery Rodrigues, do Batalhão de Emergências Ambientais do Corpo de Bombeiros, diz que o papel do produtor rural é importante na prevenção. “O nosso estado tem dimensões continentais, são mais de 903 mil quilômetros quadrados e é claro que a gente não consegue atender toda a demanda. Então, neste período, nós estamos preparando e capacitando nossos militares e produtores nos assentamentos, comunidades adicionais para que, caso haja algum tipo de queimada ou incêndio florestal, ele consiga dar a primeira resposta, fazer o primeiro combate”, disse.
Segundo o Batalhão de Emergências Ambientais do Corpo de Bombeiros de Mato Grosso, em 2020 a corporação realizou 1.693 ações preventivas em todo o estado. Ainda assim, os bombeiros precisaram de mais de 15 mil horas de trabalho para conter incêndios e queimadas ilegais em 2.492 operações.
“Qualquer ação estadual e qualquer esforço da sociedade não alcançará o objetivo se o cidadão não se conscientizar que a sua prática prejudica o seu próximo. É importantíssimo que todos façam campanhas de alerta para que a população respeite as normas, do contrário o nosso esforço não vai alcançar o objetivo macro que é evitar que o nosso céu fique cinza nos próximos meses. Já temos as previsões que o mês de julho já estará apresentando condições que dificultam o controle do uso do fogo”, finalizou a secretária de Meio Ambiente de Mato Grosso, Mauren Lazzaretti.