Especialistas fazem análise do futuro do agronegócio em novo governo

Apesar das dúvidas, o nome de Blairo Maggi é avaliado como positivo para comandar o ministério da Agricultura

Fonte: Pixabay/divulgação

O afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) e o início de um governo completamente novo, comandado por Michel Temer (PMDB) nesta quinta, dia 12, deixa o Brasil com expectativas para os rumos da economia. No setor de agronegócios, a atenção está voltada para uma definição clara sobre a validade do plano safra e políticas eficientes de abertura de novos mercados.

Para o economista Felippe Serigatti, do Centro de Estudos de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (GV Agro), o agronegócio, apesar de ser o único setor da economia que cresceu em 2015, não passará ileso ao processo de mudanças. “Quanto que vai ter de crédito, de subvenção para o produtor? Você tem uma crise fiscal, contenção de receitas, vai ter que fazer cortes, será que o setor agro vai conseguir sair ileso por isso? Será que o governo vai cortar recursos do único setor que tá crescendo?”, enumerou Serigatti como questões fundamentais a serem respondidas nos próximos dias.

Para o especialista, o mercado financeiro – que vem reagindo positivamente a transição do governo – deve permanecer otimista, mas não por muito tempo. Para ele, o dólar deve permanecer no mesmo patamar por um “curtíssimo espaço de tempo”, refletindo o otimismo do mercado diante da nova equipe, mas pode começar a reagir negativamente caso essa nova equipe não seja capaz de conduzir as reformas que o país precisa. “Talvez esse dólar volte a subir a médio prazo: em dois ou três meses”, concluiu.

Agricultura

O presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, declarou estar otimista com o afastamento da presidente Dilma Rousseff pelo Senado. Em nota, ele reiterou o apoio do setor agropecuário gaúcho ao processo de impeachment. Para a Farsul, o anúncio do corte de dez ministérios passou uma imagem positiva do governo Temer. “Isso sinaliza a diminuição do gasto público e estamos aí para contribuir com o novo governo”, disse Sperotto, que acredita que o afastamento de Dilma trará mudanças positivas ao país.

A principal reivindicação do setor ao novo governo é o desenvolvimento de uma política para o trigo. “Além disso, temas como defesa e comércio internacional entram na pauta em políticas de médio e longo prazo”, acrescentou o presidente da federação.

Apesar da preferência inicial pela senadora Ana Amélia Lemos para comandar o Ministério da Agricultura após a saída de Kátia Abreu, a Farsul declarou apoio à indicação do senador Blairo Maggi, escolhido por Michel Temer.

O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Carlos Corrêa Carvalho, divulgou nota afirmando que a expectativa da entidade é de que o agronegócio seja incluído nas prioridades do governo. A associação acredita que, com a saída da presidente, haverá um “retorno ao investimento e à produção na dimensão que o Brasil necessita”.  
“Estamos certos de que temos condições de mudar a atual realidade, com esperança e senso de justiça, marcas inerentes ao povo brasileiro”, disse Carvalho. 

Novo ministro

Umas das principais mudanças para o mercado agro se dá com a posse do novo ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP). Para o diretor de Commodities da INTL FCStone, Glauco Monte, há motivos para otimismo com o nome anunciado por Michel Temer, mesmo sem muitas definições sobre a liberação de recursos para a próxima safra. 

“Eu acho que um ponto positivo é uma pessoa que vem do setor, teoricamente conhece os gargalos que o agronegócio enfrenta, questão de logística, todos os desafios que o produtor ele tem no dia a dia. Isso tem que se tornar efetivo em ações que suportem o agronegócio em geral não só dentro do país mas tbem com acordos comerciais e expansão dos nossos parceiros ao redor do mundo”, falou.

Já na área econômica, o cientista político Eduardo Stempniewsk avalia que algumas medidas precisam ser tomadas de imediato, como o envio ao congresso de um pedido para aumentar ou transformar o superávit em déficit. “Havia uma previsão de superávit de R$ 60 bilhões, o déficit é de pelo menos R$ 130 bi, isso significa um furo de R$ 190 bilhões. Então, essa é uma medida imediata pra uma questão de prazo”, analisou.

Para este especialista, o início do governo Temer será “tumultuado”, mas tudo deve melhor em seis meses. “Muito provavelmente a gente nem vai lembrar mais que teve essa presidente”, concluiu.