Os preços do feijão estão em queda desde o começo do ano. Analistas de mercado afirmam que os valores atuais não cobrem o custo de produção e que o alto estoque de passagem deve desvalorizar ainda mais o grão ao longo do ano. O que é bom para o consumidor, mas obviamente muito ruim para o produtor.
Um levantamento recente da consultoria especializada Unifeijão mostra que, no primeiro trimestre de 2018, o preço do feijão-carioca extra, variedade mais consumida no país, caiu 28% em relação ao mesmo período de 2017. A saca de 60 kg quilos é vendida hoje a R$ 120. Já o preço do feijão-preto caiu 20%, sendo comercializado, em média, a R$ 140 a saca.
A analista Sandra Hetzel, da Unifeijão, afirma que o cenário não deve ser alterado em breve. “O que é muito ruim para o agricultor, principalmente para quem irriga”, diz.
No Brasil, são cultivadas três safras de feijão por ano. A primeira delas, que já foi colhida, deve somar um 1,25 milhão de toneladas, produção 8% menor que a do ciclo anterior. O Sul do país foi uma das regiões com maior redução no volume, de cerca de 10%. Além da queda no rendimento das lavouras, os produtores também precisam lidar com a baixa qualidade dos grãos, reflexo do excesso de chuvas.
“Tem feijão lá até a R$ 70 (a saca), um feijão de baixa qualidade que sofreu com a chuva na colheita. Hoje, para levar esse produto até a região Nordeste está difícil, porque lá ainda tem um pouco de feijão e também a safra está indo bem e está chovendo, um cenário que ninguém esperava”, afirma a analista.
Para a segunda e terceira safras de feijão, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta produção de 2,1 milhões de toneladas, volume parecido com o registrado nos ciclos anteriores. Já a produção brasileira total de feijão entre 2017 e 2018 está estimada em 3,3 milhões de toneladas.
Com oferta e demanda equilibradas, o que deve pressionar os preços ao longo do ano é o alto estoque de passagem. Ana Victória Monteiro. pesquisadora do Instituto de Economia Agropecuária (IEA), lembra que os levantamentos indicam uma reserva de cerca de 4 milhões de sacas. Esse volume seria capaz de atender o consumo até abril, quando começa a ser colhida a nova safra. “Se tiver aumento de consumo, (por) uma melhoria do nível de vida da população, aí você pode ter uma pressão maior (nos preços), mas não é o caso”, diz.
Sandra Hetzel, da Unifeijão, afirma que o agricultor precisa ficar atento aos custos de produção, já que o preços do grão não devem passar de R$ 150 a saca ao longo do ano. Ela acredita que, com a entrada da nova safra, será difícil mudar o cenário do mercado. “Se ela vier positiva, vai ser muito difícil até para o agricultor que irrigar feijão (vender) nessa faixa de R$ 120 até R$ 150, muito difícil”.