Etanol de milho deve crescer mais de 380% em Mato Grosso

Estado também discute a tributação pesada, que estaria retardando o crescimento do setor  

Fonte: Divulgação/USP Imagens

Dez anos depois de Mato Grosso virar uma promessa na produção de biocombustíveis, o cenário no estado anda bem diferente do que produtores imaginavam na época. A tributação é apontada como o maior problema, mas o setor aposta que a produção de etanol de milho possa alavancar a atividade nos próximos anos.

O presidente da Datagro, Plínio Nastari, mostra que, mesmo com o avanço dos carros elétricos, a produção de biocombustíveis vai sobreviver. Ele elogiou ainda a iniciativa de Mato Grosso em investir no etanol de milho, apostando que a produção possa crescer cerca de 380% nos próximos seis anos. “A produção de etanol de milho em Mato Grosso, que está na escala de 144 milhões de litros por ano, vai crescer e, dentro de pouco tempo, a gente acredita que deva chegar a 700 ou 800 milhões de litros”, falou.

Nastari lembra ainda que está sendo lançada mundialmente uma tecnologia capaz de produzir hidrogênio a partir do etanol, uma garantia de que o carro elétrico também vai precisar de energia limpa.

“É o reconhecimento deste conteúdo de hidrogênio muito elevado do etanol e a capacidade da tecnologia em extrair esse hidrogênio do combustível líquido e transformar em eletricidade, fazendo com que a mobilidade possa utilizar a infraestrutura que já existe para a produção e distribuição de combustíveis líquidos para ter um carro elétrico”, disse Nastari, projetando o uso comercial da tecnologia citada para o ano de 2020.

Desafios

Apesar de ser o segundo maior produtor de biocombustíveis do Brasil, Mato Grosso ainda sofre com a elevada capacidade ociosa das indústrias. Os desafios do setor sucroenergético no estado foram destaque desta terça no 1º Congresso de Bioenergia de Mato Grosso, realizado entre os dias 12 e 14 de setembro, em Cuiabá.

Durante o evento, a União Brasileira de Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) pediu apoio aos produtores rurais para que o governo continue avançando nos percentuais de mistura obrigatória de biodiesel no diesel comum, que passará para 8% em março do ano que vem.

“O produtor de grãos é o produtor de matéria-prima que atende à nossa indústria de biodiesel, então, quanto mais produzir, mais biodiesel nós teremos. Quanto mais se usa o biodiesel, mais barateado será o custo da produção, pois o biodiesel já pode ser utilizado imediatamente para as máquinas agrícolas em 30% da mistura (…). Com isso, nós podemos transformar o biodiesel em um insumo importante para baratear o custo da produção agrícola”, disse Donizete Tokarski, superintendente Ubrabio e um dos palestrantes do congresso.

Tributos

Para o presidente do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras de Mato Grosso (Sindalcool), Piero Parini, o maior entrave para o crescimento na última década foi a tributação. Em 2006, a reportagem do Canal Rural mostrou a história de uma usina de Barra do Bugres, que produzia etanol e biodiesel, vivendo a expectativa do boom dos biocombustíveis. Dez anos depois, no entanto, nem tudo saiu como o planejado: entre 2008 e 2015, a produção de etanol hidratado na região Centro-Sul do Brasil, onde está a maior parte das usinas, cresceu 1,9%. Em Mato Grosso, subiu 3,4%, mas a maior expansão acabou ocorrendo em Mato Grosso do Sul, com 14,1% de crescimento.

Enquanto em Mato Grosso do Sul as usinas destinam aproximadamente 3,5% da receita para o ICMS, em Mato Grosso, este percentual está em 10,5%. Para reverter a situação, o setor espera que o governo estadual autorize, em breve, uma redução das alíquotas.

“Nós estamos elaborando neste momento, em quatro mãos, aquele projeto de lei que determinará o futuro da carga tributária para o etanol. Possivelmente, trará o futuro para o desenvolvimento setorial, bem como aquilo que o governo, de modo geral, espera com ampliação da sua base tributária e econômica”, analisou Parini.