Faltam caminhões para escoar a produção de grãos em Goiás

Crise econômica tirou empresas e autônomos da atividade, e concentração da época de plantio em diversas regiões agravou o problema; indicação aos produtores é investir em armazenagem

Fonte: divulgação

A falta de caminhões para escoamento da safra de grãos tem prejudicado os produtores de Goiás. De acordo com o setor, muitas empresas de transportes e também caminhoneiros abandonaram a atividade, por causa da crise econômica.

No município goiano de Cristalina, no entorno de Brasília, mais de 2.000 produtores rurais enfrentam esse problema logístico, que os impede de levar soja para armazéns e portos. Para agravar a situação, o atraso do plantio no Sul do país e em Mato Grosso fez com que agricultores de diferentes regiões colhessem ao mesmo tempo, sobrecarregando a frota que escoa os grãos.

Diante dessa situação, o produtor Beto Mazzocco nem pensa em dessecar uma área de soja de sua propriedade. É que o total colhido até agora continua à espera de transporte. “A gente vai tentar colher o mais naturalmente possível, para não chegar tudo de uma vez (ao mercado)”, conta.

De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Cristalina, Alécio Maróstica, houve concentração do plantio da soja em diversas estados e regiões. “O Sul começou a plantar e deslanchar o plantio em 15 de outubro, e nós aqui, em 15 de outubro já estávamos plantando. Mato Grosso também estava plantando nessa época. Em consequência, a colheita aconteceu toda praticamente no mesmo período. E a demanda por frete foi toda concentrada”, afirma.

 

O presidente da Associação das Empresas Transportadoras de Cargas de Goiás, Paulo Afonso Lustosa, diz que o clima proporcionou essa concentração de frete. Mas afirma que a queda na procura por transporte na entressafra impediu a manutenção dos caminhões e agravou a baixa oferta do serviço. 

Segundo ele, a recessão de quase três anos provocou uma crise tão profunda no setor que empresas e autônomos não conseguiram se manter na atividade. “Tiveram que devolver ou encostar os caminhões por falta de recursos e falta de manutenção, ocasionados por essa baixa demanda”, diz Lustosa.

Ferrovias

A baixa movimentação nas rodovias regionais comprova a reclamação dos produtores. Em plena época de colheita, é difícil encontrar algum caminhão carregando grãos. Para o coordenador Movimento Pró-Logística, Edeon Vaz, o problema só será resolvido com investimento em outros modais, como o ferroviário. Ele afirma que região de Cristalina, por exemplo, é atendida pelos terminais de Brasília, Araguari e Uberaba, que facilitariam o transporte de grãos. “Mas, de qualquer forma, você tem que ter disponibilidade de caminhões para alimentar a ferrovia”, contemporiza.

Mazzocco é um dos entusiastas do transporte de grãos efetuado por trens. “Imagina só o que iria tirar de caminhão das rodovias, principalmente na minha propriedade, onde tem uma ferrovia que corta a fazenda de fora a fora. Seria uma maravilha para nós”, diz o agricultor.

Enquanto o investimento em logística não vem, os produtores são orientados a aumentar a capacidade de armazenamento agrícola. Dessa forma, seria possível esperar por um momento melhor para vender e transportar o resultado da colheita, diz Paulo Afonso Lustosa.