Meteorologistas afirmam que a temporada de granizo começou mais cedo este ano na região Sul do país. Por causa disso, os agricultores precisam ficar atentos e fazer o seguro da lavoura. Além dos entraves na comercialização, a incidência de granizo, em razão de temporais, é considerada mais severa nesta safra do que no ciclo passado.
No início de setembro, o fumicultor Anderson Maus, morador de Paraíso do Sul, registrou a grande quantidade de gelo que se acumulou pelo chão. O fenômeno vem “tirando o sono” dos produtores de fumo do Sul do Brasil.
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A região do Vale do Rio Pardo chegou a registrar mais de mil lavouras de fumo atingidas pelas chuvas e seguidas de granizo. No feriado de 7 de setembro, relembra o agricultor, por volta das 3 horas da madrugada, as pedras de gelo começaram a cair. “A Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) foi avisada e calculou os prejuízos. Eles vão pagar em torno de R$ 7 a R$ 8 mil. Não é que vai dar lucro para gente, mas, elo menos, já ajuda para a gente não ter perda a mais. O fumo vinha vindo bonito, muito bonito mesmo”, lamentou o agricultor.
Anderson torce para que não ocorra mais e que consiga comercializar bem o que restou da lavoura. “Começou bastante cedo, o fumo é novo ainda, tem muito tempo até que a gente vai tirar ele da roça. A expectativa é de fazer uma safra boa, comercialização boa também, e contar com o tempo. É uma cultura muito sensível, o fumo está exposto ao tempo. Teve o frio, se intensificou, nos últimos dias também castigou um pouco do fumo, também deu uma parada. A hora que ele estava começando ficar bonitinho, se criando bem , veio esse problema com as pedras. Vamos pensar positivo”, disse.
Dionel Funk plantou, nesta safra, 530 mil pés de fumo no município de Vale do Sol. No entanto, 13% da safra foi atingida pelo granizo no início do mês. “Agora, dia 13 de setembro, novamente pela madrugada, mais um vento bem forte que também arrancou algumas folhas . A safra está por começar a colheita e que Deus nos abençoe para que conseguimos colher o que sobrou”, contou
As temporadas de granizo no Sul do país começaram mais cedo em 2020 e os meteorologistas estão atentos ê ocorrência do La Niña. “A época do ano em que essas tempestades são mais comuns vai entre o final do inverno e o início da primavera, ou seja, exatamente, o período que nós nos encontramos agora. Nós temos a confirmação do estabelecimento de uma La Niña com base nas medições de temperatura da superfície do mar, no oceano Pacífico Equatorial, há previsão que seja uma La Niña de fraca à moderada [intensidade]”, disse o professor de meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Ernani de Lima Nascimento.
“É importante a gente indicar a temporada de tempestades severas, que são tempestades que produzem vendavais e granizos grandes, este ano, em 2020, começou mais cedo. Desde junho, a gente começou a ter o registro, particularmente em Santa Catarina e, mais recentemente, também no Rio Grande do Sul, produzindo granizo grande e vendavais”, completou o professor, que disse ainda que é possível que a primavera tenha mais tempestades de granizo.
A Associação dos Fumicultores do Brasil já contabiliza mais de 3,8 mil produtores dos três estados do Sul prejudicados pelo granizo na safra 2020/2021. No mesmo período do ano passado, eram apenas 313 atingidos.
O Sistema Mútuo da Afubra cobre os prejuízos causados pelo granizo e vendaval, de acordo com a modalidade que o produtor optou no momento de inscrever a lavoura no seguro. “A gente teve no início uma ajuda muito grande do governo do estado do Rio Grande do Sul. A gente precisou treinar pessoas para poder fazer as avaliações do prejuízo de granizo. Esse sistema então foi se desenvolvendo. Hoje, nós estamos com praticamente 150 pessoas que vão a campo, fazem a avaliação do prejuízo, que funciona a partir da contagem de folhas perdidas nas lavouras”, disse Benício Werner, presidente da Afubra.
Segundo ele, o principal problema também está na safra do plantio mais tardio que enfrenta temperaturas bem elevadas. “Então, isso é muito perigoso para a qualidade do tabaco, muito fácil de deixar de produzir qualidade. É uma orientação das próprias empresas. O próprio produtor de tabaco, quando fez algumas experiências plantando um mês mais cedo , escapou e teve nesse tabaco mais cedo, uma qualidade melhor. Então, este ano, temos mais atingidos também pelo maior número de incidências, mas também porque tinha mais produtores que aderiram ao plantio mais cedo, em relação à safra passada”, concluiu.