A volta da cobrança do Funrural e a operação Carne Fraca trouxeram prejuízo e incertezas para o setor pecuário. Diante de um cenário conturbado, analistas acreditam que o volume de animais confinados deve ser menor.
Nas últimas semanas, o pecuarista Ademir Ferreira de Mello tem convivido com surpresas nada agradáveis. O preço da arroba não para de cair e virou motivo de preocupação. Neste ano, ele espera engordar 10 mil bovinos em sua fazenda em Campo Florido (MG). Até agora, o planejamento está mantido, mas o pecuarista já ligou o sinal de alerta.
“No último ano, recebemos na faixa de R$ 155 por arroba, e hoje para vender é R$ 135 ou R$ 133. Notamos que a cada dia está baixando mais o preço e vamos esperar para ver até onde isso vai. Com essa queda, a gente corre o risco de fechar no vermelho”, afirma.
Nos primeiros cinco meses deste ano, a arroba do boi gordo caiu quase 10% em Minas Gerais, e hoje é cotada em média a R$133 no estado. Com a queda nos preços, o poder de compra do invernista piorou e a relação de troca com as categorias de reposição também ficou menor em comparação com o início do ano.
Apesar da queda nas cotações dos animais de reposição, a relação de troca entre a arroba do boi gordo e o boi magro caiu 5,8% no estado entre os meses de janeiro e maio. No início do ano, o pecuarista precisava de 11,8 arrobas para a compra de um boi magro. Agora, a proporção é de 10,5 arrobas.
“A reposição também continua seu movimento de queda, mas o preço do boi caiu mais forte. Devemos lembrar que tivemos Carne Fraca, que repercutiu imediatamente no preço da arroba. O Funrural trouxe confusão para o mercado e articulou a queda para descontar 2,3% no preço do boi”, afirma o analista da Scot Consultoria Gustavo Aguiar.
Diante de tantas incertezas no mercado, o pecuarista Antônio Guimarães de Oliveira decidiu rever os planos. No início do ano, ele esperava engordar cinco mil bovinos, mas decidiu reduzir o volume em 25%.
“Tínhamos um estoque de insumos um pouco mais caro e ele dava apenas para essa quantidade que a gente optou por confinar. Outro fator foi diminuir nosso estoque de boiadas mais cara do ano passado”, aponta.
A possibilidade de novas quedas no preço da arroba e o surgimento de novas operações envolvendo o setor pecuário são fatores que, segundo Gustavo Aguiar, devem reduzir o número de animais confinados no primeiro giro de engorda.
“Como o confinamento é uma atividade mais arriscada, o confinador achou melhor reduzir um pouco o confinamento nesse primeiro giro. Outro ponto é a chuva, que tem mantido bem os pastos em maio e isso estimula menos o confinamento agora. No segundo semestre, isso deve mudar com preço de dieta ainda melhor e boas margens para relação de troca com boi magro”, disse.
Outro fator que deve ser determinante para a diminuição do confinamento é que, neste ano, as empresas de proteína animal suspenderam as compras de boi a termo. Essa modalidade de negócio é muito utilizada pelos pecuaristas para assegurar um preço satisfatório para a arroba no futuro. Com isso, é possível, por exemplo, garantir um valor de venda acima do custo de produção.
“Além de não conseguir travar esse boi com o frigorífico, o diferencial de base fica aberto. Então, são duas pontas que não conseguimos fechar, o que gera mais insegurança quando a gente vai para o mercado”, conta Antônio Guimarães de Oliveira.