Nesta semana, o presidente Michel Temer anunciou a concessão de duas ferrovias importantes para o agronegócio: a Norte-Sul e a Fico (Ferrovia de Integração do Centro-Oeste). Mas as obras só devem sair do papel em um ano.
A paralisação dos caminhoneiros deixou evidente a dependência que o país tem de sua malha rodoviária. Um mês depois do fim da greve, o governo anunciou a concessão de novas ferrovias, o que pode desafogar o escoamento da safra em longo prazo.
“Acredito que as ações que estão previstas para o modal ferroviário vão melhorar muito a nossa logística. Essa obra é uma delas. Vai ser de extrema importância para que possamos viabilizar a própria Norte-Sul. Uma ferrovia tem que ter carga. E, para ter carga, a Fico vai ser uma grande alimentadora dessa ferrovia”, diz Edeon Vaz Pereira, coordenador do Movimento Pró-Logística.
Ele acrescenta que existem outras obras no setor ferroviário que precisam ser implementadas, como a prorrogação da malha paulista, que vai possibilitar sair de 35 milhões de toneladas para 75 milhões de toneladas.
“Isso aumenta também o volume de cargas a ser escoado pela Ferronorte a partir de Rondonópolis, passando de 17 para 35 milhões de toneladas. É uma série de ações para priorizar mais o setor ferroviário. Lógico que sempre vamos ser dependentes do modal rodoviário. Ele alimenta a ferrovia, alimenta a hidrovia. Mas, nos grandes trechos, nós vamos ter ganho substancial e, o que mais interessa ao produtor, uma possível redução do frete”, completa Pereira.
A construção das ferrovias vai ficar a cargo da iniciativa privada. Com a entrada da Fico no Programa de Parcerias de Investimentos, vão ser construídos 383 km de ferrovias que ligará, no primeiro momento, o município de Água Boa (MT) a Campinorte (GO).
Esse trecho vai alimentar a ferrovia Norte-Sul e está estimado um investimento de R$ 4 bilhões. No programa também está prevista a extensão de 1.537 km, ligando os estados de Tocantins, Goiás, Minas Gerais e São Paulo.
“Quero ressaltar que esses dois trechos não bastam, pois acredito que o Brasil precisa de mais ferrovias. Inclusive, em Mato Grosso, está lá para ser licitada a Ferrogrão, que irá de Sinop a Miritituba. Temos que sair desse modal arcaico que é o rodoviário. Assim como temos que dar uma preferência grande para as hidrovias. Aqui em Mato Grosso temos o rio Teles Pires, o rio Juruena, a bacia do Tapajós. Isso tudo pode ser utilizado”, afirma Antônio Galvan, presidente da Aprosoja-MT.
O setor rodoviário domina 61% da safra que é transportada para os portos. Depois vem o ferroviário, com 14%, e o hidroviário, com 11%. Com a construção dessas novas ferrovias, a expectativa é que os gargalos no transporte de carga comecem a ser supridos. Mas as obras só devem começar mesmo daqui a dois anos.
“Com essas ferrovias, acredito que vamos poder passar para 25%, 26% o transporte ferroviário. E precisamos elevar o hidroviário para pelo menos 18%. O escoamento da safra é volumoso e nós precisamos de modais mais baratos. Nós trabalhamos com soja, milho, farelo, produtos de baixo valor agregado. Nós não podemos usar modal rodoviário para transportar grão. Isso é contraproducente para o país, para o produtor. Todo mundo perde com isso”, diz Pereira do Pró-Logística.
A notícia é boa, mas o setor produtivo se preocupa com o tempo de execução das obras.
“A gente fica incrédulo com certas coisas. Por que tanta demora para terminar uma obra que não é tão expressiva? A nossa BR-163 está lá ainda com 90 km no trecho do Pará para ser concluídos, estamos em plena seca e está tudo parado lá. O Exército não está fazendo nada, a empresa que pegou o trecho do Exército, a JM, não está lá trabalhando. Temos mais de 200 km daquela rodovia que foram pavimentados, mas estão danificados. Temos em torno de mil caminhões ou mais que passam diariamente carregados”, afirma o presidente da Aprosoja-MT.
O ministro Blairo Maggi publicou um vídeo em rede social comentando as novas concessões.
Também foi lançado o Plano Nacional de Logística, que pretende melhorar a aplicação dos investimentos, sejam públicos ou privados, na infraestrutura de transporte. As ações devem ser concretizadas até 2025.
“O setor ferroviário entende como muito positivo que o Plano Nacional de Logística tenha considerado as ferrovias como prioridade nessa nova etapa da infraestrutura nacional e é interessante perceber como os investimentos na infraestrutura ferroviária tem condição de no curto e no médio prazos mudar a matriz de transporte de cargas brasileira e torná-la mais equilibrada, já que ela é muito dependente do modal rodoviário”, diz Fernando Paes, diretor da ANTF (Associação Nacional dos Transportes Ferroviários).
“A associação e o setor acredita que a gente consiga dar um salto e ter uma matriz de transporte de carga minimamente equilibrada, para começar a ter estrutura de transporte, uma logística mais saudável para o país”, conclui Paes.