O governo federal cedeu às reivindicações dos caminhoneiros e agora tenta convencer a população de que não vai aumentar impostos para compensar os cofres da União. Mesmo assim, a greve chega ao oitavo dia com quase 600 pontos de bloqueio.
Nesta segunda-feira, dia 28, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, tentou durante duas horas convencer a população de que não deve haver aumento de impostos, e sim compensação exigida por lei pelo desconto de R$ 0,46 no litro do diesel.
“Eu reduzo o imposto e tenho ou uma redução de incentivo, ou algum outro aumento de imposto para compensar a redução. Mas, do ponto de vista do governo, eu não estou aumentando a arrecadação”, disse.
A manobra foi a única saída para tentar acabar com a greve dos caminhoneiros. A Fazenda calcula que a redução no preço do litro do diesel vai custar R$ 13 bilhões aos cofres públicos.
“O governo está assumindo sacrifícios no Orçamento e, naturalmente, honrará essa diferença de custo sem nenhum prejuízo para a Petrobras”, afirmou Michel Temer.
Independentemente da fonte dos recursos, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) avalia que a redução do preço do diesel foi uma conquista do setor. A entidade acredita que os caminhoneiros vão encerrar a greve nos próximos dois dias, tempo necessário para desmontar as mobilizações em todo país.
“Acho que foi a greve mais importante do segmento. Eu só fico triste, (porque) foi reivindicação nossa, (a redução) não atingir os combustíveis em geral”, disse o presidente da Abcam, José da Fonseca.
Mas a categoria não conseguiu apenas a redução do preço do diesel. Entre as reivindicações atendidas esão a garantia de previsibilidade do reajuste de preços a cada 30 dias; isenção do pagamento de pedágio por eixos suspensos dos caminhões; e ainda a discussão no Congresso para a criação de uma tabela de preço mínimo dos fretes a cada três meses.
Mesmo com os avanços, empresários do setor de transporte devem ser investigados pela Polícia Federal pela suspeita de locaute. A prática, considerada crime, é uma espécie de greve às avessas, em que os patrões impedem funcionários de trabalhar com o objetivo de conseguir benefícios. A Abcam nega que isso tenha acontecido. De acordo com Fonseca, os empresários não tinham como colocar caminhões nas ruas e, mesmo se o fizessem, não iriam ter ter diesel para abastecê-los.
“Nenhum empresário, seja de confederação ou federação, pediu para eu fazer uma greve. E nenhum veio aqui pedindo para suspender a greve”, disse o presidente da entidade.
Na manhã desta segunda-feira, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) pediu que o Ministério da Agricultura interceda na negociação com os caminhoneiros. Cerca de 64 milhões de aves já teriam morrido em todo país por falta de ração. O prejuízo chega a R$ 3 bilhões e oferece riscos à saúde da população, já que os animais mortos podem contaminar o meio ambiente.
“Uma coisa é pensar em um frango, que você pode enterrar pegando uma pá. Como vai fazer para 100 mil, 30 mil, lotes médios de pequenos agricultores? Isso pode poluir o lençol freático, pode levar a poluição para as águas e isso começar a dar problema de saúde pública”, afirma o vice-presidente da ABPA, Ricardo Santin.