Grãos não serão principais vítimas de desvalorizações na China

Commodities minerais e energéticas devem sofrer maior impacto, mas mercado agrícola deve ter redução de patamar

Depois de uma semana de quedas drásticas, a Bolsa Xangai fechou em alta nesta sexta, dia 10. Desde o dia 1º de junho, quando foram registradas as primeiras baixas, o acúmulo da desvalorização na bolsa chinesa já chega a 30%. As ações vêm perdendo força desde o mês passado e há riscos da oscilação afetar o agronegócio brasileiro.

A queda foi provocada por medidas econômicas do governo chinês. O analista da FGV Agro Felipe Serigatti explica que as baixas não vão prejudicar a demanda por commodities agrícolas, mas deve afetar os preços.

– [A China] vai continuar comprando, mas os preços não estarão naqueles patamares que a gente estava acostumado há quatro ou cinco anos. Essa realidade, essa fase do ciclo de commodities já ficou pra trás – indica Serigatti.

Segundo ele, a dor de cabeça maior não vai bater nas commodities agrícolas, mas nas commodities minerais e talvez nas energéticas. Serigatti comenta que se por um lado a queda foi 30%, se pegar os últimos oito meses, havia uma alta de 125%, o que não é sustentável. Diante disso, o governo chinês tentou criar medidas para impedir que as pessoas continuassem comprando aqueles papéis. 

– Deu muito certo. Então, o governo chinês está tentando correr atrás disso e reverter esse processo – explica o analista.

Hoje, as bolsas chinesas fecharam em forte alta. O Xangai Composto, principal índice acionário da China, saltou 4,5%, mas permaneceu 24,5% abaixo do pico de junho.  A segunda alta consecutiva depois de três semanas de queda.

– Eu diria que é um momento pontual. Não se deve sair alardeando uma preocupação mais acentuada, porque a formação do preço é na Bolsa de Chicago. Portanto, há agentes que estão intermediando esta oscilação. Essa medição de forças seriam os fundos de commodities começando a buscar um seguro através de dólares e vendendo commodities agrícolas. Tivemos um momento passageiro e agora é momento de reflexão: onde a demanda estará junto com a oferta, para equilibrar os preços futuros? – sugere o analista de mercado Mario Mariano.
 
A desvalorização das ações chinesas tem sido atribuída ao temor dos investidores, depois que o PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre mostrou o pior ritmo dos últimos seis anos.
 
– Um país que está crescendo 7,3 % ao ano acaba dizendo que não atingiu a meta. Mas como eles já vêm crescendo de 11% a 7 % nos últimos anos e agora não atingiu a meta, há um temor de que todo esse estoque grandioso que está sendo incluído globalmente através das grandes produções: Estados Unidos, Brasil… possa sobrar um pouco mais nesse período de baixas, em virtude da recomposição dos estoques. Portanto, uma redução também desse comprador pode deixar a desejar um preço menor para o futuro, à exemplo do que estava acontecendo, a Bolsa de Chicago estava trabalhando com US$ 9,20 hoje, estão com US$ 10,50 por conta de uma quebra, uma possibilidade de possível quebra de rendimento da produção – comenta Mariano.