Produtores de leite do oeste de Mato Grosso paralisaram as entregas aos laticínios por causa da desvalorização do produto nos últimos meses. Temendo ainda mais prejuízos, o setor cobra reajustes nos preços pagos pelo litro.
Na propriedade de Antônio Vieira, o que se vê são vacas em lactação soltas no pasto e a ordenha de uma produção diária de quase mil litros de leite paralisada. A rotina que entra no terceiro dia consecutivo no sítio Santo Antônio, em Jauru.
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“Eu entrego leite há mais de 25 anos, para subir sobe de dois em dois centavos, mas para cair vem de 20 centavos por vez. É difícil conseguir orçamento para tratar uma vaca de leite no cocho, acabamos pagando para trabalhar, mas eu não vou vender vacas para ninguém não, nem para amigos, porque senão ele vai continuar entregando leite. Eu vou matar ‘esse trem’ tudo no frigorífico, elas vão dar o mesmo preço que vou pedir, mas laticínio também não vai fazer leite e queijo de vaca minha não”, disse, revoltando, Antônio Vieira.
Segundo ele, por causa disso, teve que começar a doar o leite. “Estou doando, entregando leite aqui para os vizinhos para tratar de porco”, disse.
Na atividade há mais de 40 anos, Leandro Bosello é outro produtor da região indignado com o atual cenário dos preços e também decidiu paralisar as entregas para a indústria. “Teve uma baixa de 20 centavos nesse pagamento que recebemos agora, referente a janeiro. O leite referente a fevereiro mais uma baixa de 5 centavos e, o de março, mais uma baixa de 15 centavos. Então, um sal que eu comprei há três meses, onde paguei R$ 90 e que, agora, está em R$ 115 reais, então totalizando aí são 35 vacas em lactação uma média de 300 litros dia. Não tem mais como a gente manter o que a gente vinha fazendo e estamos na paralisação. Enquanto os preços não melhorarem, a gente não volta a tirar leite”, disse.
Os bloqueios nas estradas impedindo a passagem de caminhões leiteiros também fizeram parte do protesto, mas através de uma liminar concedida por um juiz da região, os laticínios com o uso policial conseguiram dar fim às barreiras. No entanto, a greve segue por tempo indeterminado nas propriedades em mais de vinte municípios da região que, juntos, são responsáveis por uma captação diária de 800 mil litros em média de leite.