O último relatório do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados mostra que o Brasil teve o pior mês de outubro desde 1999. Entre os setores que mais eliminaram vagas estão, em primeiro a construção civil, que demitiu 33,600 mil trabalhadores; em seguida a agricultura, que dispensou 19,600 mil pessoas. No campo, o fluxo de trabalho é sazonal, mas mesmo assim a situação preocupa.
– Temos uma empresa aqui na região, que deve demitir em torno de mil pessoas no período de entressafra, e em março voltar a contratar, ocupar estas vagas de novo. Este ano está um pouco mais apertado, os preços caíram bastante, isso também dificulta a manutenção dos postos de trabalho – diz agrônomo Valter Caetano.
O cenário de desaceleração da Economia, que vem atingindo o mercado de trabalho formal, coincide com o aumento do número de imigrantes que chegam ao Brasil. Nos últimos três anos, o fluxo de imigração cresceu em 50%, para diversas origens. No ano passado, pela primeira vez os haitianos superaram os portugueses e são hoje os que mais conseguem emprego no mercado brasileiro.
O Observatório das Migrações Internacionais terminou um estudo sobre a inserção dos imigrantes no mercado de trabalho brasileiro e constatou que os empregos formais cresceram dentro das indústrias do agronegócio.
– Uma parcela significativa está trabalhando em frigoríficos, abatedouros de carne, abatedouros de frango, empresas de conservas também têm muitos imigrantes. Nestas empresas de conservas, que são trabalhos que os locais não estão realizando, estão deixando para os imigrantes – explica o professor da Universidade de Brasília e coordenador científico do Observatório, Leonardo Cavalcanti.
Numa fazenda de hortaliças orgânicas dos 90 empregos diretos, atualmente, três vagas são ocupadas por estrangeiros. Eles vieram de Bangladesh, no final do ano passado, e ainda enfrentam com bom humor as dificuldades de comunicação. Falam inglês e a língua nativa Bengalês. Nurul Amim recebe alimentação, hospedagem e tem uma renda líquida superior a R$ 1300 por mês.
– Muito trabalho, mais dinheiro; pouco trabalho, pouco dinheiro – compreende o imigrante Amim.
Golam Mawla trabalhou como camareiro em um hotel em Brasília (DF) e depois aprendeu a trabalhar com a produção de rúcula. Está na fazenda desde o início do ano e gostou de receber por produtividade.
– Antes chegou R$ 1500, este mês R$ 1600 – comemora Mawla.
O responsável pelo RH da fazenda Malunga, Marcio Ono, explica que a empresa já teve paquistaneses, ganeses e os bangladeshis.
– Por eles, passariam dia e noite trabalhando, sábado e domingo, não querem descansar! A gente que tem que pausar eles. A gente tem um limite, que obedecemos aqui, mas por eles fariam tantas horas extras quanto tiver. Então, eles acabam ganhando mais do que os brasileiros neste sentido.
Junior Ribeiro foi consultor do Sebrae e abriu uma empresa que seleciona trabalhadores para atender ao agronegócio. Ele destaca porquê os empresários rurais estão abrindo as portas para os estrangeiros.
– Essa questão do seguro desemprego, família, e não é questão de treinamento não, não é falta de treinamento. Os empregadores todos, eles treinam, mas a questão é que não querem vir trabalhar no campo mesmo – diz Ribeiro.
Para ajudar no recrutamento da mão de obra, ele também contratou imigrantes:
– Eu contratei um para me ajudar no recrutamento por causa da língua e para trabalhar comigo, seis pessoas de Gana. São pessoas que fluem o trabalho – destaca o consultor.