O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff mexe com a economia e afeta diretamente o produtor rural. Embora não haja unanimidade no setor sobre a saída ou permanência da presidente, em um ponto todos concordam: a indefinição e a instabilidade não podem continuar.
Pequeno produtor em Brasília, Rivaldo José Gonçalves trocou de profissão, deixou a moradia urbana e se mudou para a área rural. Hoje, é dependente do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) para investir na pequena chácara e aumentar a produção leiteira.
Ele tem uma posição definida sobre o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. “Eu sou contra porque nós estamos vivendo uma democracia, e a maioria da população escolheu o presidente que aí está. Mesmo nessa crise política, a gente tá conseguindo fazer financiamento, aumentar a produção”, diz.
A 20 km da propriedade de Gonçalves, o cenário é bem diferente. Na cooperativa Agropecuária do Distrito Federal, os 136 associados reduziram os investimentos por falta de crédito rural. O presidente da Coopa-DF conta ainda que a oscilação do dólar prejudicou a comercialização da soja futura. “Hoje, uns 40% dos nossos associados conseguiram fazer comercialização, outros estão esperando uma definição porque há um diferencial muito grande do dólar”, diz Leomar Cenci, presidente da cooperativa.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão, a oscilação do dólar foi o que mais impactou o setor: “É uma coisa antagônica. Num segundo momento, vai ser uma coisa boa para o produtor. Mas agora tá sendo muito difícil. O produtor teve a sua dívida em dólar majorada e suas garantias permaneceram com os mesmos valores. Além disso, os bancos saíram do negocio”, diz João Carlos Jacobsen Rodrigues.
Embora não tenha se formado um consenso entre os agricultores sobre o impeachment e muitos representantes de entidades prefiram ficar em cima do muro, todos concordam que o processo precisar terminar logo.
“Do ponto de vista político, a governabilidade fica muito difícil caso a Dilma continue no poder. Mas eu vejo com muita tristeza a possibilidade de a gente ter que tirar um segundo presidente”, diz Ronaldo Spirlandelli de Oliveira, presidente da APA (Associação Paulista dos Produtores de Algodão).
“Talvez o que mais preocupe seja a própria indefinição. Quanto mais rápido se definir isso, ou a saída ou a permanência, isso vai trazer um norte pro agricultor”, diz Leomar Cenci, da Coopa-DF. Cláudio Malinski, diretor-técnico da entidade, completa: “Do jeito que está hoje, a melhor decisão é um impeachment mesmo. O mercado vai acreditar mais no Brasil”.