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Rural Notícias

‘Imposições dos EUA ameaçam setor do etanol brasileiro, já afetado pela economia’

Miguel Daoud fala sobre pedido de isenção de tarifas de importação para etanol produzido nos Estados Unidos, o que poderia beneficial Donald Trump eleitoralmente

Os Estados Unidos estão estudando dentro do governo a possibilidade das tarifas de importação do etanol americano serem reduzidas a zero. Atualmente, há isenção para até 750 milhões de litros por ano, mas a partir daí a tarifa é de 20%.

Entre os argumentos usados por autoridades norte-americanas está a importância para o governo Bolsonaro da manutenção de Donald Trump na presidência do país. Iowa é o maior produtor de etanol e o estado pode ser peça fundamental na reeleição de trump e Todd Chapman, embaixador dos Estados Unidos no Brasil, que tem tido conversas nos ministérios da Economia e relações exteriores, quer que a isenção de tarifas seja aprovada até agosto.

Os EUA produzem etanol a partir do milho, e o produto é mais barato que o similar brasileiro, feito com cana-de-açúcar. Os americanos são os maiores vendedores da substância ao Brasil: em abril, segundo dados do governo compilados pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), foram 142,5 milhões de litros importados, sendo que 127,6 milhões vieram dos EUA.

A entrada do álcool estrangeiro no país afeta principalmente pequenos usineiros no Nordeste, que no ano passado tentaram, sem sucesso, impedir a elevação da cota de importação.

A Unica se manifestou contrária à estratégia de Trump. Segundo a entidade, a tarifa zero para o etanol só seria justa se os Estados Unidos abrissem o mercado de açúcar e, efetivamente, aplicassem o programa que previa crescimento vigoroso de consumo de etanol.

Para o comentarista Miguel Daoud, essa ação é resultado do desespero de Donald Trump diante do cenário das eleições presidenciais norte-americanas. “Pedir ao Brasil para abrir o seu mercado de etanol é ‘fichinha’ perto do que ele está fazendo para tentar se reeleger, já que Iowa é um estado muito importante nessa corrida eleitoral”, falou.

Outro ponto importante, segundo o comentarista, é a queda na demanda do milho nos Estados Unidos. “Eles possuem uma superprodução de milho. O programa de etanol em biocombustível não foi para frente e não sabem o que fazer com o etanol, e essa estratégia geraria lucros eleitorais para ele nessa região produtora”, disse.

Para Daoud, essa ação não faz sentido, já que o setor brasileiro passa por uma grave crise financeira. “Não tem cabimento abrir o nosso mercado para ajudar os EUA, que não estão nos ajudando em nada. A lealdade é recíproca, se Bolsonaro é leal, eles deveriam nos apoiar também”, concluiu.

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