O Brasil superou a média de queimadas dos últimos anos. Só na primeira semana de setembro foram mais de 16 mil incêndios registrados pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). Ainda de acordo com o instituto, a quantidade de focos que atingiram o país desde janeiro representa um aumento de 18%, se comparado ao mesmo período do ano passado. E é o maior índice desde 2012, quando aconteceram pelo menos 12 mil queimadas.
Só em agosto, 4 mil hectares foram incendiados no Distrito Federal, por exemplo. E quem paga por isso é o produtor rural, que com o solo danificado perde produtividade.
A fazenda do produtor rural Genésio Müller, fica bem próxima da rodovia, no município de Planaltina (DF). Por lá, ele plantou aveia para fazer a cobertura do solo, mas foi surpreendido com um incêndio, que consumiu pelo menos 100 hectares da sua área. “Talvez até passe de 100 hectares. O fogo queimou a cobertura que fizemos no solo para protegê-lo. A minha reserva florestal, em torno de 180 hectares tá queimando também, o fogo está queimando o cerrado todo”, conta ele.
Esta não é a primeira vez que o produtor sofre com queimadas. Todo inverno é a mesma história. “Chegou julho, agosto, setembro temos o mesmo problema. Se chegar lá na minha propriedade tem um caminhão pipa com água ou um trator engatado na grade para socorrer o vizinho, salvar as coisas que temos por causa destes incêndios”, diz Müller.
Segundo a meteorologista Fabiene Casamento, da Somar Meteorologia, o tempo seco do inverno está entre as principais causas dos incêndios, além das queimadas criminosas. “Esta situação deve ficar relativamente melhor após o final de setembro, quando as chuvas voltam aos poucos a ocorrer de forma mais regular na metade norte do país”, afirma.
O prejuízo em longo prazo é o que mais preocupa os produtores. Na propriedade do agricultor Marcos Denke, os incêndios acabaram com pelo menos 10 hectares de milho. Mas, o prejuízo não para por ai, já que a falta de matéria orgânica (queimada) no solo prejudica bastante a produtividade. A expectativa é de uma redução de 10% nos lucros.
Além disso, Denke contava com o cereal para a produção de ração. Agora terá que contratar mão de obra para recolher as espigas queimadas e ainda ter que comprar mais milho para os animais.”Não fiz a colheita do milho e agora tenho prejuízos para somar. Comercialmente é inviável, ninguém vai comprar um milho queimado. Terei que pagar diaristas para recolher o restante que ficou para o meu consumo mesmo . 10% talvez eu aproveite, o restante não tem condições”, garante ele.
A Emater do Distrito Federal orienta os produtores afetados, a gradearem a terra, para tentar recuperar ao máximo o solo queimado. “O ideal, se acontecer um incêndio é o produtor tentar incorporar essa cinza o mais rápido possível ao solo, pode ser com uma grade aradora e trabalhar na propriedade com terraceamento para controlar as enxurradas da chuva. Chuva boa é aquela que infiltra”, explica Marcos de Lara Maia, gerente de agroecologia e meio ambiente da Emater/DF.