Ivermectina de longa ação é vendida no interior de São Paulo

Antiparasitário utilizado pela pecuária foi proibido em maio deste ano, depois de embargo dos Estados Unidos à carne brasileira com resíduosSeis meses depois da publicação da instrução normativa que proibiu a venda e o uso da ivermectina de longa ação, a equipe do Rural Notícias flagrou lojas agropecuárias comercializando normalmente o produto.

A ivermectina é um antiparasitário utilizado pelos pecuaristas. O uso do produto de longa ação foi proibido depois que os Estados Unidos rejeitaram cargas de carne processada com níveis superiores ao permitido. O produto deixa resíduos por 122 dias no animal, já que a concentração é superior a 3%. Os especialistas admitem que, apesar das restrições, a substância tem um papel importante na pecuária.

– É uma droga de extrema potência e eficácia, altamente segura, e que trouxe uma revolução no mercado veterinário no inicio dos anos 1980, quando foi lançada. Então, a ivermectina trouxe para os fazendeiros um grande avanço tecnológico. Ela continua sendo, hoje, ainda uma grande arma para os fazendeiros, principalmente na questão dos carrapatos – afirma o vice-presidente do Conselho de Medicina Veterinária de São Paulo, Mário Eduardo Pulga.

A ivermectina pode ser oral ou injetável. E existem dois tipos de formulação: os produtos de curta ação, que permanecem agindo no organismo por 42 dias; E os produtos de longa ação, que ficam presentes no animal por até 122 dias.
 
Segundo Pulga, com o produto de longa duração, ao invés de fazer aplicações periódicas da formulação convencional, é possível espaçar muito mais as aplicações. Trazendo benefícios, menos manejo, desgate e despesa.

Para o pecuarista, o produto de longa ação até pode ser mais vantajoso em alguns casos, mas para os exportadores de carne o uso deste medicamento preocupa. Se o animal for abatido dentro dos primeiros três meses, em que ainda há a presença da substância, resíduos da ivermectina podem ser encontrados na carne. 

Alguns mercados não aceitam o produto desta maneira. Foi por isso que no dia 30 de maio deste ano, o Ministério da Agricultura publicou no Diário Oficial da União uma instrução normativa proibindo a fabricação, manipulação, fracionamento, comercialização, importação e uso de produtos antiparasitários de longa ação. Em 2010, os norte-americanos proibiram a entrada do produto brasileiro durante sete meses, depois de detectar lotes com níveis de ivermectina acima do permitido.

– De 2009 para 2010, nós perdemos 63% da nossa capacidade de exportação por um problema. Até hoje, nós não conseguimos recuperar parte desse mercado – relata Antônio Jorge Camardelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).

No interior de São Paulo, a ivermectina de longa ação continua sendo vendida sem nenhum controle. Em cidades como Santa Bárbara do Oeste, Campo Limpo Paulista e Iracemápolis, os vendedores sabem da proibição, mas continuam vendendo normalmente os medicamentos.

E não são só as lojas que mantêm em estoque o produto de longa ação. O medicamento também pode ser encontrado para venda na internet. Numa rápida busca em sites de produtos veterinários, foi encontrada pela reportagem a invermectina com 4,5% de concentração. De forma rápida, o produtor recebe a encomenda irregular em sua propriedade. 

Segundo o Ministério da Agricultura (Mapa), não houve nenhuma determinação para o recolhimento dos medicamentos no varejo. Os comerciantes que tiverem produto estocado podem devolver os lotes aos laboratórios, que são responsáveis pelo descarte, por meio de incineração em locais apropriados. O governo afirma ainda que as lojas que forem flagradas vendendo a ivermectina de longa ação podem ser multadas, responder por infração ao regulamento de produtos veterinários e também por danos ao consumidor.

– Se estiverem acontecendo irregularidades, que se puna. A fiscalização será permanente – declarou o ministro da Agricultura, Neri Geller.

O vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), que representa os laboratórios, disse que, por enquanto, não vai recolher o produto. Carlos Salani espera o resultado de uma ação judicial para derrubar a proibição.

– Na verdade, o Sindan orientou a todos que aguardassem uma ação. Foram feitas várias reuniões no Sindan, decidiu-se que nós só conversamos sobre este assunto setorialmente, ou seja, o Sindan, na figura do nosso presidente, ficou responsável pela condução das negociações, com intuito de buscar uma reavaliação desta instrução e uma possível permissão – esclarece Salani.

O ministro Geller também admite liberar o uso do produto de longa ação, mas com critérios para não prejudicar a exportação brasileira de carne.

– Estamos trabalhando muito forte para a liberação, nós queremos criar critérios claros para que o produtor tenha acesso a invermectina de longa duração. Ela é importante, mas precisa ter critério no uso. Não podemos comprometer a qualidade do nosso produto no mercado internacional – diz Geller.

*Colaborou João Henrique Bosco