O mar de rejeitos tóxicos que invadiu Brumadinho (MG) virou de cabeça para baixo a vida dos produtores locais. A energia elétrica acabou e a irrigação foi interrompida logo após o rompimento da barragem.
Na horta do produtor Rafael Campos, poucas mudas de alface vingaram. Ele tem outra preocupação: as entregas. O caminhão que saía carregado todos os dias enfrenta problemas para chegar ao armazém. “Daqui até o galpão, normalmente, dá 18 quilômetros. Mas com as interdições são 100 quilômetros”, conta.
Insatisfeito, Campos resolveu pesquisar e encontrou um atalho, que pode reduzir a viagem em 50 km. “Vou ver se não está bloqueado. Se continuar assim muito tempo, vou ter que parar de plantar”, diz.
O problema se repete em uma pequena propriedade de pecuária de corte e leite. “Tem que dar uma volta quase em Belo Horizonte”, conta o produtor Antônio Ferreira Filho.
Capim amassado e fezes recentes são as únicas provas de que bois e vacas ocuparam o pasto agora vazio. Os rejeitos de mineração atingiram a água usada na produção, o que impede a permanência dos animais no local.
Os números da tragédia são assustadores: até a publicação desta reportagem, contavam-se 84 mortos e quase 300 desaparecidos. Cerca de 180 propriedades rurais foram afetadas.
Vidas humanas não foram as únicas perdidas nesta tragédia. Animais também foram vítimas da lama tóxica. Isso levou organizações não governamentais (ONGs) e institutos a se mobilizaram para acompanhar os trabalhos.
A ativista Luisa Mell reclama que a mineradora Vale — responsável pela administração da barragem — não está atendendo a exigência do Ministério Público de Minas Gerais, que ordenou um helicóptero para resgatar os bichos. Em vez disso, a empresa estaria praticando a eutanásia a tiros. “Eles pegaram revólveres e atiraram nos animais. Para mim, isso é assassinato. Não foi feito mapeamento. É antiético”, afirma.
Os animais resgatados que precisam de atendimento médico estão sendo encaminhados para o centro emergencial montado no ginásio de uma escola.
Em meio à tragédia, a solidariedade entre os habitantes traz alento. O galinheiro de uma das propriedades do município resistiu à devastação. Agora, as aves resgatadas com vida, cerca de 50 até o momento, são enviadas para lá.