A produção de leite no Rio Grande do Sul cresceu quase 50% em dez anos. O segredo para tanta produtividade é o investimento que o produtor do estado vem fazendo. Com mais litros de leite por animal e qualidade no produto, tem pecuarista conseguindo lucro na atividade.
O rebanho de Carlos Alberto Marchioro, por exemplo, consegue atingir uma produtividade muito superior à da média brasileira, que é de 4 litros diários. As vacas da raça holandesa do produtor gaúcho têm média de 38 litros de leite por dia. Para chegar a esse desempenho, além do investimento feito em genética na propriedade, também foi preciso tomar cuidados com a alimentação dos animais.
Marchioro conta que, quando mantido a campo, o rebanho apresentava média diária de 22 litros de leite. Há dois anos, no entanto, as vacas passaram a ser confinadas, fazendo o rendimento subir para os atuais níveis. “A vaca caminhava muito, dois quilômetros às vezes, para ir buscar pasto no calor e aqui (no confinamento) está no conforto, tem ventilação, tem água, então não tem porque não produzir”, diz.
Terceiro maior produtor de leite do país, o Rio Grande do Sul saiu de 2,9 bilhões de litros em 2007 para mais de 4 bilhões no ano passado. A genética especializada e um manejo alimentar que suporte esse tipo de animal são fundamentais para colocar o estado em evidência na pecuária leiteira, afirma a pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Rural (Cepea/Esalq-USP) Natália Salaro Grigol. Segundo ela, os produtores gaúchos conseguem fornecer alimentação adequada durante o ano todo, o que permite que a produção estadual seja maior.
Há cinco anos, o pecuarista Franciel Bortolussi quis produzir mais e aumentou em 30% o plantel. Ele apostou no jersey, outra raça bovina especializada em leite. Com isso, viu suas vacas produzirem na média 31 litros por dia. “A holandesa é bem mais produtiva, mas a jersey tem uma qualidade melhor do leite”, justifica-se.
O investimento necessário foi alto, mas foi a forma de obter lucro. os preços pagos pelo leite no Rio Grande do Sul estão baixos, mas pecuaristas da região de Rondinha, onde está sediado Bortolussi, estão conseguindo até R$ 1,80 por litro, já que a qualidade do produto também é levada em conta na remuneração. “A gente tem que procurar tirar mais leite do mesmo animal para poder suprir essa queda de preço; diminuir o trato do animal para reduzir custo vai acabar que o dinheiro vai empatar e sobrar menos ainda”, diz o produtor.
De acordo com a pesquisadora do Cepea, o empreendedorismo e o bom gerenciamento das fazendas ajudam a entender o desempenho da pecuária de leite no Rio Grande do Sul. “Isso tudo, alinhado com a questão da mão de obra, que aqui no Sul de uma forma geral está melhor do que em outros lugares, está fazendo com que a atividade cresça e esteja despontando para no futuro superar outros estados”, diz Natália Grigol.