Paulo Roberto Soares da Mota, de 19 anos, é um dos 1,3 mil alunos de uma escola rural de Paranoá, em Brasília, onde os obstáculos vão além da infraestrutura. Para ele, a matéria mais difícil é o português.
– É meio difícil as palavras e também as comunicações – justifica o adolescente, que cursa o segundo ano do Ensino Médio.
Na escola de Paranoá, o maior problema não é a dificuldade para chegar até a escola. A má localização, por se tratar de uma área rural, impede o acesso ao lazer, o que acaba se transformando em falta de interesse dentro da sala de aula, segundo a diretora Neucyara Sanchez Ventura.
– Não que a escola não seja atrativa, a escola se torna um point para eles, porque é uma área muito deserta, eles não têm lazer. Por isso, eles chegam na escola e querem conversar, porque vivem muito isolados – afirma a diretora.
Para a aluna Tainá da Silva Souza, de 17 anos, falta tempo também para revisar o conteúdo em casa.
– Falta tempo. Eu cuido da minha casa: meus pais trabalham e eu cuido dos meus irmãos – diz Tainá.
Para o professor de matemática Anésio de Araújo, a diferença de aprendizagem entre os estudantes também atrapalha.
– A zona rural tem um problema grave que é a mudança das famílias da localidade, então, nós temos uma diversidade muito grande entre os níveis dos alunos. Uns têm um nível muito alto e outros, muito baixo. Uma falta de preparação, base – analisa Araújo.
Segundo o MEC, o problema começa nas séries iniciais. Por isso, o governo federal lançou nesta semana um pacto nacional, que prevê investimentos em material didático e a qualificação de 360 mil professores em todo o país. O objetivo é garantir que crianças de até oito anos saibam ler, escrever e fazer as quatro operações básicas da matemática. Para isso, segundo o MEC, os investimentos são essenciais.
– Isso que nós temos que providenciar, que as salas de aula sejam boas, que não sejam superlotadas, que os professores estejam atualizados, que lhes permitem estudar, preparar aulas, corrigir aulas, estudar, ir ao teatro, ler livros. O professor tem que te condições, afinal de contas, ele é o principal orientador do processo de aprendizagem dos alunos, crianças e jovens – afirma o secretário de Educação Básica do MEC, César Callegare.
Helana Freitas, especialista em educação no campo, defende ainda a descentralização dos investimentos e a modernização do ensino.
– A política não pode ficar só em nível federal, os Estados e municípios e o Distrito Fedaral – que tem 75 escolas rurais, tem que entrar realmente. Enfim, inicar esse processo de discussão das escolas para essa construção nos espaços, em todos os espaços, em todas as esferas essa discussão. Você pode, numa outra perspectiva, com outra proposta de escola que não seja aquela quadrada – que os alunos têm que ficar todos quietinhos, sentadinhos, em fileira, caladinhos, você pode fazer, sim, fazer um ótimo trabalho pedagógico com excelentes resultados, prova e tudo, trabalhando de uma outra forma.