A classificação do milho, regulamentada pelo Ministério da Agricultura (Mapa) desde 22 de dezembro de 2011, através da Instrução Normativa nº 60, tem descritos todos os defeitos que os grãos podem apresentar e qual percentual de grãos danificados um lote pode conter para ser aceito no comércio. Entretanto, o mercado nunca foi tão exigente e, ao mesmo tempo, tão confuso. A Associação dos Produtores de Soja e Milho do Brasil (Aprosoja) reclama da diversidade de critérios adotados por cada uma das compradoras e pede a revisão das regras pelo Mapa.
Há pelo menos 30 anos produzindo milho no estado de Mato Grosso, Glauber Silveira já passou por todo tipo de problema: muita umidade, muito sol, muita praga. E o sentimento é sempre o mesmo, de medo.
Repórter: Esse milho parece bom, apesar de tardio, ter recebido pouca chuva. Como você acha que as compradoras receberiam ele?
– O grão se formou. Agora, quanto de desconto teremos nesse milho? Uma compradora daria 10% de desconto como engessado. Outra empresa daria 70% – diz Silveira.
Repórter: Por que será que tá acontecendo isso?
– Tem empresa que diz que é exigente. Isso não existe. A gente precisa ter padrão – reclama o produtor.
A preocupação com a classificação surgiu junto com o crescimento da produção e da exportação no país. Nesta safra, somente para o mercado externo, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) acredita que o Brasil vai vender metade do que produziu: 21 milhões de toneladas. O exterior é mais exigente com qualidade e isso pode estar deixando as compradoras mais cuidadosas.
A reportagem do Canal Rural acompanhou como funciona a análise, numa cooperativa em Londrina, no Paraná.
No balde do laboratório se vê a impureza, que é o que cai da peneira. Geralmente são outros tipos de grãos, pedaçinhos de palha ou terra. Apenas 1% de impureza é aceita para não haver desconto. Depois, o milho é pesado na balança de precisão e, em seguida, colocado no determinador de umidade. Esse aparelho eletrônico revela um dado muito importante.
– Quanto mais úmido é o milho, maior é o desconto pro produtor, porque a compradora vai gastar pra secar esse milho – ensina Jefferson Bittencourt, mestre em classificação.
Outros fatores que geram desconto no preço têm a ver com qualidade: pragas, doenças e condições climáticas podem deixar diversas sequelas. Entre elas está o chamado grão ardido.
Há também a fermentação, que é quando o grão já está escuro, se deteriorando. Outra situação é quando a semente brota. O grão chamado de picado é o que tem furos provocados por pragas. Tem o grão choco, que se desenvolveu mal, e ainda tem o gessado. Como boa parte da análise é visual, podem mesmo haver diferenças entre as compradoras. É o que algumas associações não estão gostando.
– A Aprosoja está discutindo isso. A gente precisa ter um padrão. E quando não é respeitado, a gente possa recorrer a um órgão regulador pra que diga quem errou – solicita Glauber Silveira.
Só que o Mapa admite que não pretende entrar nessa discussão.
– Isso é particular, né. Cada um vende para quem quer. Então, a gente não fiscaliza quem analisa e compra – justifica Taísa Pelegrin, funcionária do Geneslab Classificação Vegetal.