Mercado indiano estimula produção de grão-de-bico no Brasil

Embrapa fecha acordo com empresa do país asiático para desenvolver variedades e exportar o produto 

Fonte: Pixabay

O Brasil deve se tornar autossuficiente na produção de grão-de-bico em até dez anos, mas a exportação do produto pode começar em 2019. A perspectiva é da Embrapa, que fechou parceria de R$ 100 mil com uma empresa da Índia interessada em investir em pesquisas para o desenvolvimento de variedades adaptadas ao solo e ao clima brasileiro.

A parceria é para abastecer a crescente demanda indiana, motivada pelo aumento da população do país. A meta é exportar sete milhões de toneladas de grão-de-bico e de outras leguminosas nos próximos dois anos.

O pesquisador da Embrapa Warley Nascimento conta que, atualmente, o Brasil tem apenas duas variedades do grão disponíveis para comercialização. Uma delas, a alepo, registra produtividade quase quatro vezes maior que a média mundial, de 900 quilos por hectare, o que demonstra o potencial do país para esse tipo de produção.

Segundo Nascimento, o grão-de-bico é uma alternativa interessante para o inverno, em cultivos irrigados. A cultura, diz ele, é mais rústica do que o feijão, por exemplo, mais resistente a pragas e doenças e menos exigente com relação à água.

O produtor Osmar Artiaga é o único do país a cultivar grão-de-bico em larga escala. Sua lavoura fica em Cristalina (GO) e, no ano passado, ocupou 250 hectares e rendeu 500 toneladas do produto, vendido a cerca de um dólar por quilo. Artiaga afirma que com menos de uma tonelada do grão foi possível cobrir os custos. Nesta temporada, o produtor rural ampliou a área de cultivo para 400 hectares, com expectativa de colher 800 toneladas. 

Artiaga lembra que a demanda pelo produto é alta tanto no mercado interno quanto no internacional. “Hoje, o mundo precisa de mais de 5 milhões de toneladas de grão-de-bico pra atender ao mercado indiano, árabe, entre outros”.

O investimento internacional traz boas perspectivas para o setor, mas também levanta questionamentos. A maior parte do grão-de-bico consumido na Índia é do tipo desi, de grãos menores e coloridos. Aqui no Brasil, a produção e o consumo são voltados para o tipo kabuli, com grãos claros, maiores e com um preço mais remunerador. Resta saber se o produtor brasileiro vai se interessar pela plantação de menor valor agregado. 

O produtor de Cristalina acredita que o desi teria maior apelo se apresentasse uma forma mais barata de produção, sem a irrigação e durante o inverno. “Ele não rentabiliza o suficiente, porque o kabuli chega a ser 50% mais caro”, diz Artiaga.