Na primeira reportagem da série, mostramos a facilidade de se comprar um agroquímico do outro lado da fronteira. Em uma revenda de produtos agropecuários, um produtor rural procura um inseticida para testar em sua lavoura. Conversa com o vendedor, avalia as recomendações, compra uma quantidade pequena, para testar em um talhão e ver se realmente funciona, põe em uma sacola e segue para casa.
Não há nada de errado nesta cena, não fossem alguns detalhes: o produtor rural é nosso repórter disfarçado, a loja fica em Ciudad del Este e o inseticida em questão é o benzoato de emamectina, produto com uso controlado no país. Além de ilegal, a cena é corriqueira.
A reportagem passou pela Ponte da Amizade com quatro fungicidas e três inseticidas, além do benzoato, em frente à fiscalização da Polícia Federal, sem nenhum problema. O comércio é tão corriqueiro que o próprio vendedor paraguaio dá as orientações sobre os dias e horários de menor fiscalização e a forma mais segura de passar. “É pouca quantidade, pode levar na mochila e passar a pé, que é melhor”.
Na segunda reportagem da série sobre agrotóxicos ilegais. mostramos a sofisticação do crime: contrabando com entrega em domicílio. Após nossa denúncia, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar o caso.
Para garantir a segurança dos clientes, os produtos ilegais comprados no Paraguai são entregues em domicílio do lado de cá da fronteira. Pagando uma taxa de entrega de R$ 100, o produtor recebe o contrabando sem nenhum risco. Nosso repórter, disfarçado de produtor rural da Bahia, conseguiu nas lojas paraguaias não só a melhor negociação de preço, mas também a segurança de cruzar para o Brasil sem ter o material apreendido. E descobriu mais: o comprador nem precisa sair do Brasil, pode encomendar por telefone.
Na terceira reportagem da série sobre agrotóxicos ilegais, descobrimos que a ousadia das quadrilhas que comercializam e falsificam produtos agropecuários não tem limites. Produtos falsos são vendidos até mesmo em licitações públicas. Um esquema tão sofisticado que enganou até mesmo a Embrapa Soja, em Londrina.
O caminho da reportagem pelo mundo dos agrotóxicos falsos nos levou até Franca, no interior de São Paulo. Lá, a polícia prendeu a maior quadrilha especializada em falsificar agrotóxicos no Brasil. É o que mostramos nesta quarta reportagem da série Agrotóxicos Sob Suspeita.
Foi por meio de escutas telefônicas realizadas pela Polícia Civil e pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco) que a quadrilha começou a ser desmantelada. Um caminhão com duas toneladas do fungicida sialex foi interceptado na estrada. Além de ser falso, o produto era transportado sem nota fiscal. O destino era uma loja de Araxá, em Minas Gerais. A quadrilha já estava sendo monitorada e a interceptação do caminhão era o nó que faltava para se chegar aos envolvidos. Em maio deste ano, a quadrilha foi solta.
Atraídos por preços mais baixos, os produtores rurais compram cada vez mais insumos pela internet. Mas este barato pode sair caro, como mostra a quinta reportagem da série Agrotóxicos Sob Suspeita. As vendas pela internet crescem ano a ano. Em 2014, o comércio eletrônico no Brasil faturou R$ 43 bilhões, um crescimento de 26% em relação ao ano anterior. Não demorou muito para os produtores rurais, também cada vez mais conectados, descobrirem que as vendas de agroquímicos pela internet podem reduzir os custos de produção.
O problema está na confiabilidade dos produtos. Protegidas pelo anonimato, empresas que se vendem com sites bem planejados encontraram na internet um terreno favorável para fraude. Uma economia tentadora quando lembramos que, só na soja, os agroquímicos respondem por cerca de 30% dos custos de produção.
Após a divulgação das reportagens, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pediu mudanças no sistema de registro de novos agroquímicos. A proposta é que o Ministério da Agricultura aponte prioridades e se deixe para o fim da fila produtos em abundância no mercado.
O tema virou debate do Bancada Rural. As entidades alertam produtores sobre o estrago dos produtos ilegais. Polícia Civil, Sindiveg, Ministério da Agricultura e Anvisa fizeram parte deste encontro.