O estresse hídrico prolongado e geada histórica prejudica o desenvolvimento do milho em Alto Taquari, região sul de Mato Grosso. Com mais da metade da colheita da área finalizada, as perdas estimadas de produtividade final da safra no município podem chegar aos 50%. Esse cenário deixa o setor produtivo apreensivo em relação as entregas dos contratos antecipados do cereal.
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O ano safra do produtor Elber Henrique Irgang na propriedade em Alto Taquari é de dificuldade, com transtornos e perdas significativas decorrentes ao clima adverso nas lavouras. Primeiro foi a chuva de granizo nos 2 mil hectares de soja que teve parte da área replantada. Além dos prejuízos, atraso na janela do cultivo dos 1350 hectares de milho segunda safra, cultura que, segundo o agricultor também foi bastante castigada durante todo o desenvolvimento do ciclo.
“Tivemos problemas com geada em áreas de milho no final do ciclo, com temperatura de menos meio grau. Então essas áreas plantadas sofreram com geadas, além da seca extrema durante todo o ciclo da cultura. Tivemos áreas com 60 dias sem chuva. Algumas áreas teremos que colher com colheitadeira de soja, porque a plataforma de milho não pega as espigas, pois são muito pequenas e a produtividade aqui é a menor de toda a história. A gente vai ter em torno de 40% a menos de produtividade de milho e em uma condição que não sabe se vai colher 70, 75 sacos por hectare para cumprir os contratos de vendas já feitos”, relata Irgang.
Com mais da metade dos milharais colhidos no município, a estimativa do sindicato rural é de queda significativa na produtividade final da safra.
“Com a estiagem, nós calculamos 35% de quebra, e com a geada estamos calculando em torno de 10% a 15%, então se pegar a safra total de Alto Taquari uns 50% da produção estimada de 140 sacas por hectare, nós devemos fechar a média do município em torno de 70,75 sacas”, estima o presidente do sindicato rural de Alto Taquari, Douglas Junior Turcheti.
A projeção de produtividade menor cria um cenário que causa dúvidas e preocupação em relação as entregas dos contratos antecipados do cereal no município.
“Como a gente tem aqui também um déficit de armazenagem, muitos produtores têm que comercializar de forma antecipada esse produto Estimamos que o município tenha vendido até 70% desse milho a um preço médio de R$ 35 reais. Com isso a gente sabe que não vai ter rentabilidade e saldo para quitar as contas e ainda vai ter que ficar devendo para as tradings o não cumprimento desses contratos, cada uma de maneira individual tem procurado os seus fornecedores, procurado seus compradores as tradings para tentar ver qual a melhor maneira de resolver esse assunto”, diz Douglas Junior Turcheti.
“Problema não é de preço e sim de produção. Infelizmente o Mato Grosso tem experimentado em algumas safras uma instabilidade de produção e nós entendemos que a parceria ela é vista nas adversidades, porque ser parceiro nas horas boas todo mundo é, então precisamos que a parceria entre empresas e produtores ela também aconteça nas horas ruins. Por isso pedimos a compreensão das empresas, a grande maioria de todos nós produtores somos cumpridor dos contratos, e no ano de adversidade é um ano de se ajudar”, ressalta o presidente da Aprosoja MT, Fernando Cadore.
“O que a gente está vendo é que se eu devo, tenho que pagar. O pior de tudo é que as tradings estão pegando esse milho comprado por ela para exportar e estão colocando no mercado interno. Com isso elas estão prejudicando mais ainda o produtor, porque quem conseguir cumprir os contratos e sobrar um pouquinho de milho vai precisar vender a um preço maior para cobrir os custos de produção. No entanto, esse preço maior está ficando cada vez menor agora porque as tradings estão jogando todo o milho que era para ser exportado no mercado interno”, relata o produtor Elber Henrique Irgang.