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'Não queremos conversar com Sarney Filho, queremos responsabilizá-lo', diz presidente da CNA

Dirigente da Confederação da Agricultura e Pecuária, João Martins fala sobre a polêmica da divulgação de dados do CAR pelo Ministério do Meio Ambiente, sobre governo Temer e política agrícola

Fonte: Wenderson Araujo/CNA

A relação do agronegócio com o governo Michel Temer é assunto da entrevista especial com o presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins. O dirigente conta que a entidade cortou relações com o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, fala sobre o governo Temer e se posiciona contra taxar as exportações do agronegócio para aumentar a arrecadação da Previdência Social.

Veja o que João Martins disse sobre esses temas com exclusividade ao Canal Rural.

Governo Temer

No governo passado, o país estava marchando para uma baderna. Marchando para um país incontrolado. Se você perguntar, ‘o senhor apoia o governo Temer?’, temos de apoiar, temos de acreditar nesse governo. Porque, se a gente não acreditar nesse governo, o país vai perder o rumo, e o país não pode perder o rumo. Se algumas coisas precisam ainda ser ajustadas, nós vamos ajustar com o tempo. Mas, com certeza, a orquestra de Temer, os ministros, a maioria são pessoas afinadas, que conhecem as coisas, que pensam como nós pensamos.

É muito mais fácil dialogar com um ministro que pensa como você, que tem abertura, tem clareza no que está dizendo, no que quer, do que ficar discutindo com ministro, como era no governo passado. Eram ministros com quem nós tínhamos boa relação, mas essa relação se esgotava quando começava o que eles pensavam sobre determinadas coisas. E aí era o grande conflito. Principalmente problema de meio ambiente, outros problemas com relação à mentalidade de não olhar um horizonte maior.

Sarney Filho e CAR

A esta altura, nós não queremos nem que ele venha conversar conosco. A esta altura, nós queremos responsabilizá-lo [pela divulgação dos dados de produtores contidos no Cadastro Ambiental Rural], porque ninguém tem direito de prejudicar ninguém, muito menos pessoa que é ministro de Estado, que está em cargo de envergadura como ele está. Todo mundo que erra tem que ser penalizado. Não interessa ele pedir desculpa, (dizer) que ele fez errado. Se foi algum assessor dele, que ele puna. Mas ele é o chefe. Se houver alguma coisa aqui dentro desta casa, eu, como presidente, tenho que responder, não meu subalterno. Vamos dentro da lei cobrar na Justiça o mau procedimento dele. Porque nós questionamos: aquilo interessa a quem ele colocar? Para se ter ideia, foram feitos mais de 80 mil acessos à base de dados dele. É muito acesso e para quem esse acesso?

Política agrícola

Os juros aumentaram 2% e o seguro agrícola, que é o nosso grande sonho hoje, teve pouco recurso: R$ 480 milhões. Isso significa que poderão ser segurados só 5% da produção agrícola. Para segurar um percentual relativamente bom, precisaria no mínimo de R$ 6 bilhões de recursos. O grande desafio é mudarmos um pouco a política agrícola. Sair dessa política anual e ir para a política plurianual. Porque o seguro não é só sobre a quebra de safra, é também sobre a renda do produtor. O produtor em países com seguro mais eficiente, como nos EUA, segura não só a produção como também a renda.

Da porteira para dentro, o produtor rural é supereficiente. Mas nós temos um custo, custo Brasil, da porteira até a exportação que encarece muito o nosso escoamento. Então nós precisamos fazer com que o governo entenda que tem que investir em portos, investir em estradas, investir em infraestrutura para escoamento da produção. Até energia. Temos muitos lugares em que o governo está estimulando principalmente a pecuária leiteira, nós temos luz, mas não temos energia. Luz é uma coisa, energia é outra.

Taxação de exportações

Estamos ouvindo o governo dizer que vai taxar as exportações. Ora, taxar o que vai concorrer lá fora? Será que isso é bom para o governo, é bom para o produtor? Tem que pensar um pouco sobre isso. Sei que o governo está vivendo um momento difícil. Um momento em que precisa de recurso, ninguém desconhece isso. Mas precisamos entender de onde tirar esse recurso. Você não deve onerar o que você bota lá fora, porque lá fora você tem uma concorrência brutal. Muitas vezes por um acréscimo de custo, no caso uma taxação que querem para a Previdência, vai fazer com que alguns produtos nossos fiquem inviáveis, principalmente a fruta. O Brasil é um grande produtor de fruta de qualidade, mas nós exportamos pouca fruta. Neste ano, devemos exportar algo próximo de US$ 800 milhões. E o que significa isso no mercado mundial de frutas? É um percentual muito pequeno. Precisamos que nossos produtos sejam competitivos. Temos produtos de qualidade, mas precisamos de preços competitivos.

Segurança no campo

Segurança não é só contra assaltante, é segurança jurídica. O país precisa fazer com que as leis sejam cumpridas. Nós temos que saber que, quando temos propriedade, que temos o direito da propriedade, temos direito como cidadão, e isso tem que ser respeitado. Isso tudo significa segurança. Agora, fora isso, temos que mudar a relação de trabalho. Nós defendemos a modernização da relação de trabalho e não significa a perda por parte do produtor, perda de direito adquirido. Você pode modernizar com mecanismo hoje, até porque nós estamos vivendo um novo momento da comunicação, todo mundo conhece tudo. Hoje, qualquer pessoa tem um smartphone na mão e tem acesso ao que os jornais estão publicando, o que está se dizendo. Então, queremos que essa lei trabalhista seja adaptada à modernidade do tempo.

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