Os R$ 188 bilhões ofertados para o plano safra 2017/2018 já estão disponíveis no mercado, com juros mais baixos do que os do ciclo passado e, apesar disso, o setor produtivo duvida que todo o montante será acessado pelos produtores, seguindo o exemplo da temporada anterior, onde a tomada de recursos não ultrapassou 80%.
O produtor rural Hélio Dal Bello, de Planaltina (DF), planta feijão, milho e soja. O crédito de custeio e investimento é usado por ele desde a década de 1970, mas nos últimos anos o agricultor tem enfrentado dificuldades para acessar o dinheiro ofertado com juros subsidiados pelo governo.
Na última safra, por exemplo, foram R$ 5 milhões liberados para ele na forma de crédito de custeio entre a temporada verão e safrinha. Quando o assunto é investimento, no entanto, o R$ 1,2 milhão que o produtor precisava para construir um secador e ampliar o armazém acabou não sendo disponibilizado. “Estou muito desanimado com o crédito rural, pois está muito difícil. A promessa é sempre para a semana seguinte e essa semana nunca chega. O investimento é muito mais complicado porque é para longo prazo, mas eles querem mais garantias reais e essas garantias nós não temos”, disse.
O caso de Hélio não é exceção, pois muita gente não conseguiu acessar os recursos oferecidos na última safra. Dos quase R$184 bilhões ofertados, apenas 64% haviam sido aplicados até o fim de maio e o Ministério da Agricultura estima que o percentual não ultrapasse 76% quando os números referentes a junho forem consolidados.
Os valores são considerados baixos, já que há três anos a média de acesso era de 90%. Segundo o diretor de Crédito e Estudos Econômicos do Ministério da Agricultura, Wilson Vaz, as linhas de investimento foram as que menos foram acessadas, mas o cenário pode mudar no ano-safra que acaba de começar.
“A retração de investimento foi, justamente, em programas estruturais de mais longo prazo, que possuem o período de até 10 anos para pagamento. O agronegócio vem em uma crescente em diversos segmentos, então acho que tudo isso faz com que o grau de confiança aumente e os agentes financeiros passem a disponibilizar os recursos que são viabilizados pelo governo para financiamento e, do ponto de vista do produtor, há também uma motivação para o investimento em seu negócio”, disse.
Mesmo com a redução de juros desta safra, que tem taxas entre 6,5% e 12,75%, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) acredita que a tomada de crédito deve continuar baixa, principalmente pela alta exigência de garantia dos bancos. “O que a gente tem observado é que os bancos estão cada vez mais seletivos na escolha dos mutuários do crédito rural, exigindo mais garantias e talvez isso se repita nesta safra. O produtor, no entanto, deve ficar atento ao que o banco pode exigir de garantia e o que ele pode cobrar do produtor na hora da contratação de crédito”, disse Fernanda Schwantes, assessora técnica da Comissão de Política Agrícola da CNA.
O coordenador da Comissão de Política Agrícola da Frente Parlamentar da Agropecuária, Célio Porto, alerta que, com a redução da taxa Selic, os juros do plano safra podem ficar acima dos aplicados no mercado, o que pode contribuir para mais um ano de contratações reduzidas. “O governo tem anunciado valores que não têm sido liberados na sua totalidade e para este ano o risco disso não ocorrer é maior ainda. No caso do grande produtor, a taxa foi fixada em 8,5% ao ano. Se assim for, esse produtor que hoje está com juros abaixo dos de mercado estaria com juros acima dos juros de mercado, inibindo as contratações”, comentou.