Detalhes na hora do manejo podem fazer toda a diferença na qualidade final do algodão. Padronizar e selecionar são alguns dos caminhos apontados por especialistas para melhorar a fibra e a competitividade do produto brasileiro.
Para o professor Eric Hequet, da Texas Tech University, o agricultor precisa investir na padronização do que é cultivado para gerar um fio de algodão de melhor qualidade. Também é necessário levar em conta características como a capacidade de alongamento do material, algo cada vez mais valorizado pela indústria.
– A qualidade do algodão mudou drasticamente nos últimos 20 anos e é necessário atualizar as formas de avaliar o produto, pois a indústria continua evoluindo – disse. Ele foi um dos palestrantes do 10º Congresso do Algodão, em Foz do Iguaçu, no Paraná.
Para o pesquisador do Instituto Mato-Grossense do Algodão (Imea), Jean Belót, o agricultor precisa estar atento a todas as etapas, do plantio ao beneficiamento. Detalhes na hora do manejo podem fazer toda a diferença na qualidade final do produto.
– Às vezes o produtor esquece de cuidar das plantas daninhas, ou planta uma certa cultivar na hora errada, o que vai prejudicar a qualidade intrínseca da fibra. São detalhes que nos podemos reverter.
A seleção dos lotes com as melhores fibras é uma maneira de aumentar a renda do produtor, mas poucos fazem isso. De acordo com especialistas, o Brasil vende apenas 10% do algodão com preço adicional. A Austrália, por exemplo, comercializa 80%.
– Precisamos fazer a organização dos lotes. Às vezes o agricultor tem 30% de algodão de alta qualidade, mas deixa misturado com os outros. Na hora de vender à indústria sempre paga pela qualidade inferior – afirmou o coordenador científico do Congresso, Eleusio Freire.
O salto de qualidade pode ajudar o algodão brasileiro na briga contra as fibras sintéticas, que dominam cerca de 80% do mercado e estão mais baratas por causa da queda no preço do petróleo. Mas para o diretor-executivo do Comitê Consultivo Internacional do Algodão (ICAC, na sigla em inglês, Jose Sette, ainda é possível competir com os materiais artificiais.
– Eu vejo o copo meio cheio. O preço do algodão caiu nos últimos anos e está mais competitivo. É verdade que o preço do sintético também caiu. Mas em termos absolutos, o algodão fica mais atraente nesses níveis – disse.