A estiagem prolongada mudou o cenário do Pantanal mato-grossense e o momento é de preocupação com o risco de danos ambientais, à população e aos produtores rurais. O município de Poconé, por exemplo, é considerado a porta de entrada do pantanal no estado e já decretou estado de emergência.
Um dos principais cartões postais da região, a Baía do Cavalo Marinho, reflete a dura estiagem que castiga o Pantanal. Costumava ter mais de dois metros de profundidade, mas atualmente está praticamente vazio.
O pecuarista Vanderley Volpatto é proprietário de uma fazenda com 4 mil hectares e relembra que o período das águas em 220 ocorreu em maio, com cerca de 60 milímetros de chuva. Volume insuficiente para evitar prejuízos causados pela seca.
“O pantaneiro é acostumado com água nativa, natural, do corixo. Esses corixos não encheram, então não temos água e teremos que furar poços semi-artesianos. Vamos ter um gasto com poço, bomba pileta, placa solar, tudo vai custos e o nosso lucro vai diminuir, e a consequência não vai ser só esse ano o prejuízo, ano vindouro, porque a bezerra de recria não vai desenvolver, a vaca que vai amamentar e iria dar um bezerro bom, não vai ter esse bezerro, e o score dessa vaca não vai ser bom para ela entrar em cio, para vida reprodutiva de novo. É preocupante, porque o pantaneiro tem compromisso, tem dívida em banco, compromisso em fazenda, então não vamos ter essa produção esperada”, lamentou o pecuarista.
De acordo com o presidente do sindicato rural de Poconé, Arlindo Márcio Morais, há preocupação com a falta de água para as criações. “Esse ano não teve a enchente natural que é para ter todos os anos. O pessoal já está na preocupação de água para fornecer para os seus gados, tendo que fazer investimentos com poços artesianos nas propriedades e já trabalhando os aceiros, prevendo já fogo adentrar as propriedades”, disse.
Ele alerta que o prejuízo na temporada será grande para muitos produtores. “Tivemos antecipação da seca e os produtores estão tendo que suprir com ração e suplementos minerais para não ter mais perdas e, no Pantanal, a preocupação com o gado que pode morrer atolado com as águas que vão baixando”, completou.
Situação atípica
“Esse período era para ser um período de cheia ainda no nosso município, era para estar começando a vazante a gente ainda iria ter água em abundância, mas esse ano não foi possível acontecer, não tivemos a chuva suficiente para encher os nossos pântanos para ficar alagados trazendo problemas imensuráveis para os pecuaristas, muitos dos seus gados não têm onde matar a sede através dos bebedouros artificiais. Isso não era realidade nesse período do ano ainda”, disse a secretária municipal de Meio Ambiente de Poconé, Danielle Assis.
E não são apenas os 80% da área preservada do Pantanal que sentem as consequências da seca. Os outros 20% das consideradas partes altas, onde a agricultura integrada com a pecuária recupera pastagens degradadas em 12 mil hectares, também sofrem com a falta d’água.
“Em 2019, nós tivemos pouca chuva. Agravando o que vivemos agora em 2020, com inúmeros prejuízos à produtividade da lavoura de soja, que já não foi igual à do ano passado, com a safra já está tendo perdas e as pastagens secando”, disse Arlindo.
A fazenda Lagoa Dourada foi uma das propriedades prejudicadas pela estiagem. Nela, a produtividade caiu muito nos 1.700 hectares de soja colhidos nesta safra. A média final ficou em 38 sacas por hectare, volume muito abaixo do esperado pelo agricultor, que investiu para colher pelo menos 76 sacas por hectare.
“A seca persistiu durante o ano de 2019 e, quando chegou a época de chover que era em novembro, dezembro e em janeiro as chuvas já foram muito poucas. Nós atravessamos a safra, choveu em torno de 700 milímetros durante todo o período, e como a gente estava com solo com pouca saturação de água, tivemos altas perdas por causa da alta temperatura dentro do ciclo reprodutivo dentro do florescimento da soja, tivemos perda de 40%, 50% e até 70% de perdas de produtividade a média da região, não passou de 36 sacas, em alguns talhões onde essa seca pegou nós colhemos 16 sacos, mas em talhões teve área que fechamos com 18 sacos de média, e agora estamos preocupados com a pecuária, aqueles que não têm um pasto bem corrigido, bem adubado, já estão sofrendo hoje. O Pantanal não encheu, e tem relatos de fazenda já sem água para o gado e as pessoas estão furando poços para poder fornecer água para os animais”, disse o agricultor Raul Santos Costa Neto.