Pecuária fecha ano com saldo positivo

Com preços recorde nos animais e abertura de novos mercados para a carne bovina em 2015, setor se prepara para um período menos otimista, mas ainda assim com boas projeções

Fonte: Divulgação: Roberto Guedes / Governo da Paraíba

Ao contrário do que ocorreu em muitos setores da economia do país, 2015 foi um ano positivo para a pecuária brasileira. Mesmo com a queda do consumo interno de carne bovina, os preços dos animais foram recordes ao longo do ano. Nas exportações, o Brasil comemorou a abertura de novos mercados, como China e Estados Unidos.

Entre janeiro e dezembro deste ano, o preço do bezerro subiu 16,2%, maior valorização entre todas as categorias. O desempenho foi comemorado pelo pecuarista Paulo José Padboy, que, nesta estação de monta, atingiu um índice de prenhez no rebanho de 85%, e produziu mais de 600 bezerros nelore. Todos os animais foram comercializados por um valor acima R$ 1.200.

O criador afirma que atualmente o mercado está comprador, e não nenhuma dificuldade em vender bezerros. “Até a própria fêmea, se a gente tiver interesse em vender, o que nós tivermos eles levam”, afirma.

A procura tem sido tal que, em dezembro, o bezerro em São Paulo foi comercializado por R$ 1.360, um recorde para o estado. A disparada nas cotações elevou os preços do boi magro e encareceu os custos de produção no confinamento, que teve que ser mais eficiente neste ano.

O pecuarista André Perrone Reis conta que vem trabalhando para alongar o período de engorda dos animais jovens, tendo o confinamento como estratégia. “Com custos competitivos, você consegue segurar mais esse animal e produzir mais arrobas nessas carcaças”, diz.

Confinamento

Os confinadores, por outro lado, tiveram o poder de compra reduzido ao longo do ano. Entre janeiro e dezembro de 2015, o boi gordo teve valorização de 1,4% e registrou a pior relação de troca da história. Em São Paulo, foram necessárias 9,25 arrobas para a compra de um bezerro desmamado.

A analista Lygia Pimentel, da Agrifatto Consultoria, afirma que tempos atrás a criação de bois era uma operação imobiliária, tendo havido muito incentivo e crédito para que os produtores se instalassem no Centro-Oeste e no Norte do país para explorar essas áreas. Segundo ela, a única coisa que conseguia sobreviver nessas regiões era a pecuária.

Com o passar do tempo, diz a analista, a necessidade de ocupar essas áreas terminou, assim como o incentivo oficial. A relação de troca entre boi e bezerro foi ficando mais estreita, à medida que a procura pelo bezerro foi aumentando, até atingir a atual proporção.

Frigoríficos

A queda no consumo interno de carne bovina trouxe impactos para a cadeia produtiva, levando algumas unidades processadoras a fecharem as portas. Segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), 34 plantas foram desativadas ao longo do ano, uma redução de quase 20 mil postos de trabalho.

34 frigoríficos foram desativados ao longo do ano

O preço do boi subiu mais do que a carne no mercado interno. “Isso teve reflexo mais acentuado sobre os frigoríficos de menor porte”, afirma o presidente do conselho do frigorífico Minerva, Edivar Vilela de Queiroz.

Mercado externo

Em junho, após anos de negociações, o setor comemorou a liberação das exportações de carne in natura de 14 estados brasileiros para os Estados Unidos. No mesmo período, o país iniciou embarques para a China. Em quase seis meses, foram embarcadas pouco mais de 81 mil toneladas ao país asiático, representando um faturamento de US$ 401 milhões.

No segundo semestre do ano, países como Arábia Saudita, África do Sul e Japão anunciaram o fim do embargo às importações brasileiras. Mesmo assim, o Brasil deve fechar 2015 com 1,4 bilhão de toneladas de carne exportadas, volume 7% menor do que o do ano anterior. Já o faturamento deve ser de US$ 6 bilhões, 17% a menos do que em 2014.

“Se não fosse o fraco desempenho de Hong Kong, nós teríamos alcançado os valores do ano passado, US$ 7,2 bilhões. Mas nossa expectativa é de recompor e chegar a uma taxa de sucesso de US$ 7,3 bilhões em 2016”, afirma o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Jorge Camardelli.

Perspectivas

No último trimestre do ano, os preços do boi gordo voltaram a subir. Em outubro, a arroba ultrapassou R$ 150 e atingiu a segunda maior média já registrada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.

Mas não há ambiente para euforia, de acordo o analista da MBAgro César de Castro Alves. Segundo ele, o boi está com custo alto e o mercado atravessa uma fase clara de retenção de fêmeas, o que significa um bezerro caro. 

“A troca está difícil e não há lastro para um aumento ainda maior de preços, porque o consumo, que representa 70% da nossa produção, está fraco”, diz Alves.

Em 2016, a expectativa é que a crise na economia brasileira atinja a pecuária. Segundo o analista da Scot Consultoria Alcides Torres, os preços devem perder força no primeiro semestre do ano. “Já se observam as curvas de preço encontrando resistência. O ano deve ser bom, porém menos otimista do que tivemos em 2014 e 2015”, afirma.