O preço do trigo vem desanimando os produtores do cereal. Segundo analistas, são quatro anos de safra cheia no mercado mundial, mas esse cenário fez com que o Paraguai, um dos maiores produtores do Mercosul, reduzisse a área plantada em quase 300 mil hectares.
O produtor rural Jackson Bressan chegou ao Paraguai ainda criança e sempre trabalhou no campo. Ele cultiva milho, soja e, depois de cinco anos sem plantar, investiu no trigo.
“A produção foi boa, o trigo paraguaio é bem reconhecido no mercado brasileiro e mundial pela qualidade do grão, pela qualidade da farinha que sai, mas, infelizmente, andamos sofrendo baixas nos preços por vários anos e, com o custo de produção, não pagamos as contas e acabamos tendo que tirar dinheiro de outra produção para cobrir o trigo”, disse.
Na década de 1980 o Paraguai deixou de ser importador para se transformar em um importante produtor e exportador de trigo, principalmente para o Brasil. Porém, nos últimos dois anos, o baixo preço oferecido pela tonelada desestimulou o plantio e encolheu de 850 mil hectares para 560 mil a área com cultivo do cereal.
“Esse ano se plantou mais ou menos 560 mil hectares, que não chega a ser nem 20% do solo agrícola nacional. Então, dá para se ter uma ideia do quanto se reduziu essa cultura nos últimos anos”, disse o gerente da coordenadoria agrícola do Paraguai, Milton Abich.
Para Abich, o trigo é uma das culturas que oferecem maior potencial de risco para o produtor. “Tem risco com a geada e granizo, que essa época é frequente, e depois tem o risco do excesso de chuva que diminui muito a qualidade. Tudo isso, somado aos baixos preços acaba desmotivando o produtor paraguaio a continuar plantando”, falou.
Segundo a coordenadoria agrícola do Paraguai, a safra de trigo do país já foi 90% colhida. No entanto, ao contrário dos últimos anos, a maioria dos produtores optou em armazenar o cereal em silos à espera de uma reação dos preços. Pra se ter uma ideia, no mesmo período do ano passado a tonelada do trigo era comercializada no Paraguai a US$ 200 e hoje não é vendida por mais de US$ 140.
Até o final desta semana, o Paraguai pretende concluir a colheita de trigo com 1,2 milhão de toneladas do cereal, 500 mil a menos que o volume contabilizado em 2015. Com os altos custos de produção e a baixa rentabilidade, o setor prevê mais uma redução significativa da área plantada em 2017.
Influência no Brasil
Mesmo com área menor, a safra do Paraguai vai influenciar nas cotações do trigo também no Brasil. Prestes a começar a colheita, produtores do Rio Grande do Sul devem ter uma safra com volume e qualidade, mas com preços abaixo do mínimo estipulado pelo governo.
O tempo se comportou bem e o resultado da safra deve compensar o prejuízo da última safra. Essa é a expectativa do produtor Rodrigo Sulzbach. “Creio que esse ano a gente tá com uma perspectiva de colher entre 55 e 60 sacos e isso vai dar em relação à safra passada uns 10 ou 11 sacos a mais. A qualidade também deve ser bem melhor porque ano passado a gente enfrentou um período com chuva na época da colheita”, disse.
Em 2015, apenas 5% do trigo colhido em Cachoeira do Sul foi usado para a panificação. Agora, porém, o cenário é bem diferente.
“Nós tivemos a grande vantagem do clima, com as chuvas que foram necessárias. O produtor que investiu e usou a tecnologia disponível vai ter uma boa colheita aqui em Cachoeira do Sul”, disse o agrônomo da Emater Dirceu Nöller.
O Rio Grande do Sul deve colher 2,2 milhões de toneladas de trigo, praticamente o dobro do ano passado. A safra cheia deve trazer um cenário de comercialização diferente do ano passado e pressionar o valor da saca para baixo. No último mês, o preço do trigo caiu 20%, reflexo da colheita do Paraná e também do Paraguai.