Preço da laranja dobra em um ano e indústria recorre a variedades de mesa

O aumento da cotação é consequência da menor oferta por problemas climáticos e por pragas

A cotação da laranja para a indústria subiu 100% em um ano no estado de São Paulo. Os estoques de suco estão baixos e, no campo, a safra vai ser 20% menor que no ano passado. O cenário de preço alto para a fruta deve se manter pelo menos até o fim do ano, mas, apesar da boa notícia, os citricultores precisam ficar atentos às condições do mercado.

A indústria está pagando pela fruta o dobro de um ano atrás. Em média, a caixa de 40,8 quilos sai por R$ 20, incluindo o frete. O aumento da cotação da laranja é consequência da menor oferta causada por problemas climáticos e por pragas como greening.

O Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) estima produção de 245 milhões de caixas na safra 2016/2017 em São Paulo e Minas Gerais, que são as maiores regiões produtoras do país. Se esta estimativa se confirmar, a produção vai ser 22% menor em relação ao ciclo anterior. Enquanto isso, as principais indústrias de suco registram os menores estoques de todos os tempos e menor rendimento da fruta.

Para o consultor Paulo Celso Biasioli, a indústria está precisando de cada vez mais frutas para fazer a mesma quantidade de suco. “Antigamente, você recebia 250 caixas e você fazia 1 tonelada de suco. Isto é histórico. O que tem ocorrido, pelo segundo ano, é que as indústrias estão precisando, em média, de 300 caixas pra fazer a mesma tonelada de suco”, disse.

Apesar da cotação em alta pela escassez de produto no mercado, para muitos citricultores o preço pode até cair. Isso acontece com quem fechou contrato com a indústria e fixou o preço em US$ 5 a caixa. Isto é menos do que recebe quem não fechou venda antecipada.

Outro fator importante nesta conta é o aumento do custo de produção, especialmente com a colheita e o frete. “Você entra num câmbio com o dólar em R$ 4 é uma coisa, mas com o dólar em R$ 3 é outra coisa. Dá 25% a menos”, disse Biasioli.

O citricultor Emílio César Fávero, de Mogi Mirim (SP), produz a laranja da variedade Valência, que é destinada especialmente para o atacado, pelo fato de a fruta ser bem firme e ter uma boa durabilidade na prateleira do supermercado. A variedade, no entanto, também pode ser utilizada para a produção industrial e isso costuma influenciar também no preço da laranja de mesa.

“Imagina-se que a indústria vai ter um apetite grande por esta fruta. Então, uma parte da fruta que ia ser destinada para o mercado acaba indo também para a indústria. Por causar uma melhor remuneração e por ser muito mais simples abastecer a indústria, pode fazer com que o preço da fruta in natura destinada ao mercado também suba. Acredito que, com a chegada do verão, onde a demanda por laranja no mercado interno de mesa também aumenta, ocorra uma pressão no campo pra que a laranja suba de preço”, falou o produtor.

Na propriedade de Fávero, ao contrário do que acontece em boa parte dos pomares do estado, não houve perda de produtividade. Agora, ele espera uma boa safra e acredita em preços elevados para os próximos meses.

Mas, o que parece animador para o setor, deve deixar o produto mais caro e menos competitivo no mercado internacional, segundo Paulo Celso Biasoli. “O engarrafador de lá fica procurando sólidos mais baratos. Maçã, onde a Polônia tem uma produção forte é uma alternativa de suco. Existe até um apelo comercial, como suco de laranja misturado com mamão. Parece que há um upgrade, mas quem está no setor de suco sabe que o marketing está fazendo uma jogada para substituir a laranja que ele não poderia pagar tão alto”, analisou.