Produção de farinha de trigo ficará 10% mais cara

Alta dos custos está relacionada ao aumento do dólar, que encarece importaçãoA perspectiva de valorização do dólar em 2015 deve elevar os custos de produção da farinha de trigo nesse ano em 10%, visto que 70% do custo de produção está diretamente relacionado ao trigo importado, a maior parte oriunda do Mercosul e da América do Norte. 

Fonte: Pixabay

O Brasil não é autossuficiente na produção de trigo para evitar que o aumento dos custos de importação seja repassado aos consumidores finais.  Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam que a colheita de trigo da safra de 2014 atingirá 5,903 milhões de toneladas. Embora o montante estimado represente um aumento de 7% ante a safra passada, o Brasil terá que importar mais 6,650 milhões de toneladas para conseguir abastecer o mercado interno.

– A alta do dólar é impacto nos custos na certa. Importamos trigo uruguaio e paraguaio, mas um não tem quantidade e outro não tem qualidade. Estamos calculando aumento de custos de produção na casa dos 10% nos moinhos do estado, principalmente por causa do dólar, que agora está em R$ 3,05 e em 2014 estava em R$ 2,20 nessa mesma época do ano – diz o presidente da Câmara Setorial do Trigo, Nelson Montagna.

Segundo ele, os moinhos nacionais terão de pagar quase US$ 80 a mais por tonelada importada. Montagna afirma também que, até dezembro, a importação deve totalizar 7 milhões de toneladas.

Além do fator do dólar, os representantes do mercado de trigo também citam que os custos relativos à energia elétrica, que registrou aumento de quase 50% nos últimos 60 dias, e o valor do frete, que cresceu por conta da alta no preço do diesel, também serão fatores que encarecerão a farinha de trigo.

– Todos estes reajustes, nós estamos falando num período de menos de 30 dias pra cá. Então, pra nós, foi uma surpresa e a indústria não tem outra alternativa senão repassar pro seus produtos acabados o reajuste de 10% em relação a todos estes custos que nós fomos onerados neste curto período de tempo – diz o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado de São Paulo, Christian Saigh.

Produtor

A situação de encarecimento do trigo importado está levando muitos produtores a apostarem que a cotação do produto nacional subirá.

– Ele [dólar alto] nos prejudica um pouco na questão do preço dos insumos, mas ajuda no trigo pra exportação que, em minha opinião, baliza os preços inclusive do mercado interno. E aí esses valores ficam mais altos aqui dentro também – afirma Luiz Vicente Suzin, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro).

O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) possui a mesma avaliação. Em relatório publicado que na quarta, dia 10, ele afirma que a valorização do dólar está prejudicando a importação.

– Com esse cenário, muitos moinhos têm relatado que as importações de trigo estão praticamente inviáveis, possibilitando apenas compras de pequenos volumes. Nesse contexto, a comercialização do grão nacional tem se aquecido – diz o Cepea.

O operador de mercado Pedro Dihel, da Agrinvest, ressalta, porém, que a valorização não deve ficar em linha com a alta no preço do trigo internacional.

– São dois mercados diferentes [trigo nacional e importado]. O mercado interno normalmente não faz a paridade do preço interno com o preço externo – diz.