O Brasil não é autossuficiente na produção de trigo para evitar que o aumento dos custos de importação seja repassado aos consumidores finais. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam que a colheita de trigo da safra de 2014 atingirá 5,903 milhões de toneladas. Embora o montante estimado represente um aumento de 7% ante a safra passada, o Brasil terá que importar mais 6,650 milhões de toneladas para conseguir abastecer o mercado interno.
– A alta do dólar é impacto nos custos na certa. Importamos trigo uruguaio e paraguaio, mas um não tem quantidade e outro não tem qualidade. Estamos calculando aumento de custos de produção na casa dos 10% nos moinhos do estado, principalmente por causa do dólar, que agora está em R$ 3,05 e em 2014 estava em R$ 2,20 nessa mesma época do ano – diz o presidente da Câmara Setorial do Trigo, Nelson Montagna.
Segundo ele, os moinhos nacionais terão de pagar quase US$ 80 a mais por tonelada importada. Montagna afirma também que, até dezembro, a importação deve totalizar 7 milhões de toneladas.
Além do fator do dólar, os representantes do mercado de trigo também citam que os custos relativos à energia elétrica, que registrou aumento de quase 50% nos últimos 60 dias, e o valor do frete, que cresceu por conta da alta no preço do diesel, também serão fatores que encarecerão a farinha de trigo.
– Todos estes reajustes, nós estamos falando num período de menos de 30 dias pra cá. Então, pra nós, foi uma surpresa e a indústria não tem outra alternativa senão repassar pro seus produtos acabados o reajuste de 10% em relação a todos estes custos que nós fomos onerados neste curto período de tempo – diz o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado de São Paulo, Christian Saigh.
Produtor
A situação de encarecimento do trigo importado está levando muitos produtores a apostarem que a cotação do produto nacional subirá.
– Ele [dólar alto] nos prejudica um pouco na questão do preço dos insumos, mas ajuda no trigo pra exportação que, em minha opinião, baliza os preços inclusive do mercado interno. E aí esses valores ficam mais altos aqui dentro também – afirma Luiz Vicente Suzin, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro).
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) possui a mesma avaliação. Em relatório publicado que na quarta, dia 10, ele afirma que a valorização do dólar está prejudicando a importação.
– Com esse cenário, muitos moinhos têm relatado que as importações de trigo estão praticamente inviáveis, possibilitando apenas compras de pequenos volumes. Nesse contexto, a comercialização do grão nacional tem se aquecido – diz o Cepea.
O operador de mercado Pedro Dihel, da Agrinvest, ressalta, porém, que a valorização não deve ficar em linha com a alta no preço do trigo internacional.
– São dois mercados diferentes [trigo nacional e importado]. O mercado interno normalmente não faz a paridade do preço interno com o preço externo – diz.