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Produtor desenvolve o primeiro lúpulo brasileiro

Quase todo o volume de 2.500 toneladas consumidas pelas cervejarias é importado. Segundo o agricultor, planta atinge vigor máximo de produção no segundo ano

O lúpulo é um dos principais ingredientes na fabricação da cerveja. A planta é de origem europeia, o que dificulta o cultivo em clima tropical. Mas, graças ao trabalho de um agricultor do interior de São Paulo, foi desenvolvido uma variedade adaptada às condições nacionais.

Você já pensou em produzir numa região com mais de 40 dias de geada no ano, altitude acima de 1.600 metros e bem no meio da mata atlântica? O que para muitos parecia utopia, para Rodrigo Veraldi foi oportunidade de tentar algo nunca feito antes no Brasil.

“É uma planta que prefere solos de alto teor de matéria orgânica, solos de várzea que possuem grande concentração de matéria orgânica. É importante dizer que o lúpulo é nativo de regiões temperadas, mas isso não quer dizer ele se limita a esse tipo de clima. Nós estamos hoje cultivando lúpulo em solos de climas tropicais e quentes. É uma questão de adaptação”, diz Veraldi.

As cervejarias nacionais consomem cerca de 2.500 toneladas de lúpulo por ano. Quase todo o volume é importado, a um custo de US$ 35 milhões. No Brasil, as primeiras variedades começaram a ser cultivadas em 2009. A produção ainda é modesta, apenas 5 toneladas por safra, mas pode representar o início de um novo ciclo nesse mercado.

“Para ter acesso a um lúpulo de qualidade, você precisa importar. E isso acaba sendo um fator de custo. Os maltes que usamos hoje também são importados. Então, para cervejarias artesanais o custo dessa matéria prima é elevado. O desenvolvimento do lúpulo nacional vai viabilizar no futuro o acesso a uma matéria prima mais em conta. Outro fator importante é a geração de empregos”, afirma Sidney Telles Filho, mestre cervejeiro da Heineken Brasil.

A primeira variedade de lúpulo produzida em solo nacional surgiu por acaso. A história começou em 2005, quando Veraldi ganhou as primeiras variedades e conseguiu fazer a germinação em estufa. Em seguida, o produtor tentou levar o experimento a campo, mas as plantas não resistiram e foram descartadas.

Na época, ele pensou que era o fim de todo o trabalho, mas depois ele reparou que uma das plantas havia resistido. Surgia então a primeira variedade de lúpulo brasileiro, que foi batizada com o nome da região em que foi desenvolvida: a Serra da Mantiqueira.

Hoje, na fazenda de Veraldi, já são 950 plantas, que produzem 800 quilos de lúpulo por ano. A planta é uma trepadeira que precisa de muita luminosidade para se desenvolver. Ela cresce até 30 centímetros por dia e chega a 6 metros de altura. O custo para implantação da cultura é de R$ 80 mil por hectare, e a produtividade média é de um quilo por planta.

“É uma planta que tem ciclo anual em regiões mais frias. Em regiões mais quentes, a gente observa até duas colheitas por ano. Nós estamos testando no Brasil em climas mais quentes. Plantando em outubro, ela vai dar a primeira colheita em fevereiro e março, mas essa primeira safra não é comercial. A partir do segundo ano, ela atinge seu potencial máximo de produtividade”, afirma Veraldi.

A variedade desenvolvida pelo agricultor chamou a atenção da cervejaria Baden Baden, que firmou uma parceria com o produtor e desenvolveu a Märzen, uma cerveja feita 100% com lúpulo brasileiro. No ano passado foram fabricados dez mil litros da bebida, e todo o volume foi comercializado.

“É uma cerveja que traz a nota do lúpulo brasileiro. Ela tem esse equilíbrio entre o malte e o lúpulo brasileiro, um pouco mais de álcool e corpo e com a cor um tom acima da cerveja pilsen. Com o desenvolvimento desse mercado, podemos, sim, usar o lúpulo brasileiro em outras cervejas”, diz o mestre cervejeiro da Heineken.

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