A escalada de violência que atinge o Brasil deixou de ser uma característica das grandes cidades e hoje também se espalha pelo campo. Os crimes em propriedades rurais colocam em risco o desenvolvimento de regiões produtoras que têm dado suporte à economia do país.
O produtor rural Walfredo Pereira de Oliveira retrata bem essa realidade. Sua propriedade, na zona rural de Brazlândia, no Distrito Federal, foi alvo de quadrilhas por 20 vezes. No episódio mais recente, 18 pessoas, entre familiares e funcionários, foram rendidos e mantidos confinados. Os bandidos fugiram, levando carros, celulares e dinheiro, num prejuízo estimado em R$ 200 mil.
“Eles estão de olho nos nossos insumos. Não foi o caso agora, mas estão atrás disso, procurando levar nossos instrumentos de trabalho, de valor agregado alto”, diz Oliveira, que se queixa da situação delicada em que sua família vem sendo colocada, sem ter a quem pedir socorro.
Na região de Brazlândia, ao menos seis propriedades já foram atacadas por criminosos nos últimos meses. O batalhão local de polícia rural conta com 50 policiais e quatro viaturas. O capitão Rafael Cunha afirma que é difícil impedir a ação das quadrilhas sem a ajuda da comunidade, que se une através do uso da internet e grupos de WhatsApp.
“O policiamento rural não tem as mesmas características do policiamento urbano. Esses grupos fazem com que a polícia esteja mais presente nas comunidades”, diz o capitão. Ele conta que, quando solicitado, a polícia faz uma visita comunitária, levantando informações. nos solicita a gente manda uma visita comunitária, para levantar dados e dar dicas de segurança. “O patrulhamento cotidiano existe, mas é complicado a gente cobrir 30% do Distrito Federal com quatro viaturas”.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública e Paz Social, os produtores do DF aparecem com frequência nas estatísticas de violência. Em 2017, foram registrados ao menos dois casos diários de furtos ou assaltos em propriedade rurais: no total, foram registrados durante o ano 101 roubos e 749 furtos.
Armas
A liberação do uso de armas no campo é defendida pelo Legislativo como alternativa para combater a violência nas áreas rurais. Já são quatro propostas em tramitação: três na Câmara e uma no Senado Federal.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que pretende colocar um dos projetos em votação ainda neste semestre. Ele afirma que uma das pautas é chegar a um texto que garanta a proteção da população sem ampliar o desarmamento de forma “desenfreada”. “Está se avançando e eu acho que em pouco tempo, 30, 40 dias vai estar o projeto pronto”, diz.
Apesar de reconhecerem a vulnerabilidade do produtor rural, o setor e a polícia tratam a liberação do uso de armas no campo com cautela. O próprio Walfredo Pereira de Oliveira admite que não adianta armar o proprietário rural sem que ele tenha treinamento. “O bandido atirou muitas vezes antes de vir aqui, Talvez se eu tivesse uma arma aqui comigo teria usado contra eu mesmo. Tem que dar um treinamento para que o produtor possa se defender também”, afirma.
Para o capitão Rafael Cunha, o projeto de lei que garante o porte de arma é importante para a segurança. “É um aliado, mas cabe ressaltar que o produtor precisa ter o registro da arma, e ela tem que estar legalizada, enquadrada no calibre que é autorizado a ele”, diz. Ele ainda lembra que é preciso atenção ao local onde a arma será acondicionada, mantendo-a longe do alcance de crianças e de pessoas que não estejam habilitadas.
Especialista em segurança pública, Roberto Aguiar alerta para a necessidade de o tema ser amplamente debatido. Segundo ele, pesquisas demonstram que quem tem arma, mas não possui treinamento, muitas vezes dispara contra si.