O ano de 2016 tinha tudo para ser muito bom para o triticultor, mas não foi o que aconteceu no Rio Grande do Sul. Apesar de o clima garantir uma ótima safra, o preço foi o grande vilão da história e, para 2017, a cultura se torna uma incerteza para muitos produtores.
Os agricultores que apostaram na cultura tiveram um bom resultado e a colheita no estado vai alcançar 2,3 milhões toneladas. A área plantada com o cereal diminuiu no Rio Grande do Sul, passando de 970 mil para 766 mil hectares, mas isso não influenciou no volume produzido.
Os produtores de trigo não tiveram neste ano grandes preocupações com doenças fúngicas, como a giberela, que tem causado grandes danos à triticultura gaúcha, afirma o engenheiro agrônomo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) Cláudio Doro. “O clima foi favorável, apesar de que, em outubro, nós tivermos um período de bastante chuva, mas as temperaturas noturnas foram baixas e impediram que a doença se instalasse”, diz.
Em 2016, o produtor Idalino Dal Bello colheu 92 sacas por hectare, algo que ele não via há muito tempo. Os responsáveis pelo desempenho foram o clima e o investimento em adubação e sementes. “Neste ano, quase não tem trigo para ração. Só tivemos trigo bom, porque o tempo correu fantástico. Não tem porque dizer que o trigo não presta e não pagarem, porque é de boa qualidade”, afirma Dal Bello.
Prejuízos
Nós estamos tendo um prejuízo por saco de mais de R$ 10
A alegria dos triticultores, no entanto, parece ter durado pouco. O preço não para de despencar e, há três meses, o valor da saca está abaixo do mínimo, que é R$ 38,65. Alguns produtores venderam a saca a R$ 29, valor que não cobre o investimento feito na lavoura.
“Nós temos, atualmente, um custo operacional de R$ 39,41 e estamos vendendo o nosso trigo a R$ 29, ou seja, nós estamos tendo um prejuízo por saco de mais de R$ 10”, afirma o economista da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz.
O economista diz ainda que o setor alertou inúmeras vezes o Ministério da Agricultura sobre a queda nos preços. A entidade teria sugerido que o governo intervisse no mercado, comprando o produto. “Com a AGF (Aquisições do Governo Federal), o governo entra e compra o produto; tirando aquele produto do mercado, ele diminui a pressão da oferta. O governo não quer fazer AGF sob o argumento de não ter dinheiro, mas as indústrias também não querem o AGF, claro, pois elas não querem um competidor do tamanho do governo no mercado delas”, completa da Luz.
Produtor do norte do Rio Grande do Sul há 30 anos, Dal Bello está desanimado com o trigo. “Tu vai tirar todos os custos e, se sobrar, vai sobrar um guisadinho. Eu pensei comigo: se eu não ganhar dinheiro neste ano vendendo, eu não sei se eu vou plantar trigo”, disse.
Infelizmente para o produtor, a sensação de que o ano de 2017 não será bom é compartilhada também pelos especialistas. “Vai ser bastante conturbado, com alta volatilidade, e eu acho que o produtor que tiver capitalizado deve segurar o produto agora, ofertar mais tarde e vender escalonadamente”, disse Cláudio Doro.