– Nós estamos no fundo do poço – diz o produtor Leonir.
O setor do leite está marcado por fraudes, investigações e má gestão.
– A situação se agravou mesmo a partir do segundo semestre de 2014. Já vínhamos sentindo algumas dificuldades antes disso, mas a partir daí é que foi realmente se agravando a situação. Algumas empresas, primeiro atrasando pagamentos em alguns dias, algumas semanas, e posteriormente parando os pagamentos. Ou seja, os agricultores não receberam mais pelo produto que entregaram – afirma o tesoureiro da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Sérgio de Miranda.
A situação deixou o setor em alerta, já que a estimativa é que a dívida das empresas que fecharam ou entraram em recuperação judicial ultrapasse R$ 40 milhões.
– Eu diria que a cadeia produtiva toda está sofrendo, está sentindo os reflexos dessa situação, tanto as indústrias e claro, principalmente, o produtor, porque a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Nesse caso é o produtor, muitas vezes é o consumidor, em outros, são os dois juntos – demonstra Miranda.
Na região do posto de recebimento de Giruá, nas Missões, a crise já afeta diretamente a economia do município.
– O comércio está bastante afetado, tem também um fator, que foi a colheita do trigo frustrada. Mas pesou muito a questão do leite, porque o leite hoje é uma atividade que está superando a soja – contabiliza o vice-presidente do Sindicato Rural de Giruá, Luis Fucks.
A crise no leite atinge vários produtores gaúchos, mas só na região de Giruá são mais de mil pecuaristas prejudicados, e o prejuízo local pode chegar a quase R$ 8 milhões.
O produtor José Camargo contabiliza as perdas. Toda a família trabalha na produção do leite e ele não recebe faz dois meses. A empresa é a LBR, que entrou com pedido de recuperação judicial após problemas financeiros. A dívida da empresa com o produtor é de R$ 75 mil. Com receio de não receber nada do dinheiro, Camargo fez um acordo com a empresa que comprou algumas unidades da LBR. Resultado: vai receber apenas 50% do valor em cinco prestações.
– Era R$ 75 mil, dividido em dois, 50%, ia dar R$ 36 mil. Então, esse valor foi dividido em cinco parcelas, vai dar cinco parcelas de R$ 7,5 mil. Essa foi a proposta que nós tivemos para não perder tudo, foi a proposta que ofereceram para nós, ou pega essa ou então tinha outra opção de 35% e entrar na Justiça pelo restante, mas se entrar na justiça, quando íamos receber? – questiona o produtor.
Ele faz parte de uma extensa lista de produtores da região que estão sem receber. Além da falta de pagamento, produtores também estão sofrendo com a redução nos preços pagos pelo litro de leite.
– Em torno de 15%, no geral, é em torno de 15% a 20%, o meu deu 15% – lamenta Camargo.
Algumas empresas estão tentando manter o preço pago ao produtor, como é o caso da Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL).
– Baixar o preço minimamente para o produtor, na expectativa que teremos logo lá na frente uma entressafra. Então, a política é que nós não baixamos o preço ao produtor na mesma rapidez com que o mercado baixou o preço – explica o presidente da CCGL, Caio Vianna.
Com tantos problemas está cada vez mais difícil manter a atividade.
– Nós estamos sempre sendo empurrados pra trás, nós não estamos aguentando mais, está difícil – protesta Camargo.