Quase três semanas após o rompimento da barragem no município de Mariana, região central de Minas Gerais, centenas de produtores ainda não conseguiram retornar as atividades. Várias fazendas continuam cobertas pelo barro e os prejuízos aumentam a cada dia.
O distrito de Paracatu de Baixo foi soterrado pelo barro e hoje o local vive apenas nas lembranças de seus moradores. “Eu estava pescando no rio quando uma moradora do distrito de águas claras veio e gritou que a lama estava vindo e tinha destruído Bento Rodrigues. Eu corri toquei os animais para a parte mais alta da fazenda e sai correndo”, diz a produtora Rosária Ferreira Duarte.
A fazenda do produtor de leite Marco Antônio Mol Santos também foi atingida. Alguns animais que estavam perto do rio ficaram presos no barro. A casa onde morava também foi danificada. Ele e a família conseguiram escapar. “Na garagem da casa foram três metros de lama na hora da enchente e depois ela acumulou em torno de um metro e meio. Ela sofreu muitas pancadas de madeiras, mas agora é trabalhar para recuperar isso ai”, afirma.
A lama dividiu a fazenda de Santos em duas partes, deixando a casa do produtor e dos empregados de um lado e, do outro, o curral e os animais. Para não interromper a produção, ele foi obrigado a construir uma ponte sobre o rio. Antes disso, ele ficou 15 dias sem conseguir entregar leite. Durante este período, ele acredita que perdeu 3 mil litros. “Tinha que andar 120 quilômetros para chegar em um lugar que normalmente era 100 metros. Nós fomos avisados umas três horas antes da chegada da lama que iria ter problema, mas a gente não imaginava que fosse ter essa dimensão”, conta.
Na fazenda ao lado, dez hectares de pastagem foram destruídos. O produtor José Alves Torres não tem mais comida para o gado e vai ser obrigado a vender parte do rebanho. “Não tem como continuar com o mesmo número, porque o pasto é pouco. Elas estão [vacas] no chocho, mas sai caro. Eu vou vender a maior parte, quem sabe mais para frente eu consigo comprar de novo”, diz.
Nossa equipe voltou a encontrar o produtor Clodoaldo Carneiro Cerceau. Uma de suas vacas ficou presa por dias na lama. Com ajuda de dez pessoas, ele conseguiu tirá-la do barro. Ela ainda está fragilizada, mas deve sobreviver aos ferimentos. “Nós arrastamos ela na mão e tiramos ela para fora na mão. Graças a Deus agora ela está sadia, está até dando um pouquinho de leite”, conta.
Muitos animais continuam sendo resgatados e a maioria é trazida para um abrigo em mariana. O local foi alugado pela mineradora Samarco e abriga aproximadamente 300 bichos. Têm cachorros, galinhas, cavalos e até gansos. Mais de 20 pessoas percorrem todas as regiões atingidas pela lama fazendo os resgates.