Muitos produtores que comercializaram milho antes da colheita em Mato Grosso não estão conseguindo cumprir os contratos após o clima afetar diretamente a produção. O principal problema, segundo os agricultores, é que eles também não estão conseguindo negociar com as empresas e as multas são inviáveis.
Na fazenda do produtor Décio Sidney Freitag, em Santa Rita do Trivelato (MT), a quebra foi de 25 sacas por hectare. Ele diz que não esperava um clima tão ruim e agora enfrenta dificuldades para cumprir os contratos. “Eu tinha comercializado 65% da área, mas ficamos no prejuízo. Estamos tentando acertar da melhor maneira, tentando jogar para a próxima safra, mas eles são bem duros. Sabem que não choveu, mas não interessa: querem o grão e parece que a gente tem que tirar do bolso esse grão”, disse Freitag.
O agricultor Enéas Gláucio Batistella vive o mesmo dilema. A perda de produtividade lhe causou um prejuízo de quase R$ 1 milhão e, como se não bastasse, o produtor só conseguirá entregar metade do volume de milho que vendeu antes da colheita. A multa, mais uma vez, é o maior problema. “Eles disseram que terei que pagar R$ 13 por saco. Fui bem claro ao dizer que não tenho de onde tirar, pois não houve sobra de milho. Não tem cabimento, mas vou sentar novamente com eles e fazer uma contraproposta.”
Perda
A estimativa é de que 70% dos produtores de Trivelato tiveram problemas de perdas nas lavouras e que dificilmente terão condições de cumprir os compromissos. O município entrou em estado de emergência por conta da situação. “A gente já veio sofrendo com soja e agora mais essa frustração do milho. Quem tinha uma reserva foi tudo e, quem não tinha, hoje está endividado”, falou Batistella.
O município de Diamantino também sentiu as consequências do clima. O presidente do sindicato rural da cidade, José Cazeta, estima uma quebra de 30% na safra de milho do município e afirma que muitos produtores não vão ter condições de cumprir os compromissos. “Eu faço o meu apelo, pois acho que a parceria tem que existir. Em um momento como esse, acho que os produtores não deveriam ser penalizados por falta de grão, pois ele não vendeu o milho para ninguém. Então, tem que perceber que ele não cumpriu porque não quis e sim porque o clima não ajudou”, disse.
Outro lado
O Canal Rural entrou em contato com a Aprosoja Brasil que afirmou, por meio de nota, que essa situação tem que ser resolvida caso a caso. A entidade reforçou ainda que é importante que o produtor negocie com as traders.
As empresas Fiagril, Glencore e Bunge, que estão em negociação com esses produtores em Mato Grosso, também foram procuradas, mas não quiseram falar sobre o assunto.