O colorido do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, considerado um dos cartões postais do Brasil, está cinza e sem vida. Com a seca que atinge o estado, cerca de 15% dos 33 mil hectares dessa unidade de conservação foram consumidos pelas queimadas. O fogo não tem poupado também as propriedades rurais, levando agricultores a perderem lavouras e máquinas agrícolas.
Na Chapada, o trabalho dos membros das brigadas contra incêndio muitas vezes não tem sucesso. O analista ambiental do Instituto Chico Mendes Cecílio Pinheiro, que está entre os brigadistas, conta que os focos saem do controle, pondo em risco pessoas e animais.
“A gente vê bichos pequenos passando pela gente, lagartos, cobras, aves, tamanduás-bandeira, seriemas, todos desorientados”, conta Pinheiro, lembrando que a previsão é de que o tempo permaneça seco pelo menos até setembro.
Em Diamantino, o presidente do sindicato rural, José Cazeta, calcula que o número de focos cresceu em relação ao ano passado. Ele afirma que a alta temperatura, aliada aos ventos fortes, tem feito o fogo se espalhar com rapidez pelas lavouras dessa e de outras regiões do estado. “Não tem nada que apague; só apaga quando terminar de queimar o que tinha para queimar”, resume.
Ao percorrer a rodovia MT-010, é possível ver áreas produtivas ainda em chamas e outras onde o prejuízo já está sendo contabilizado. O produtor Jair Calegaro afirma que, em sua fazenda, várias pessoas tentaram apagar o foto que teve início numa manhã, mas não houve sucesso. Até um trator foi queimado. A área para o plantio de soja terá que receber nova correção de calcário. “E vai plantar desse jeito, não tem o que fazer. A palha e a matéria orgânica já foram todas embora”, lamenta.
Em outra propriedade, o operador de máquinas Silmar Bispo da Cruz revela que conduzia um trator quando o fogo chegou, atingindo o equipamento. Ainda assustado ,ele revela que no dia do incêndio foi tudo muito rápido e só teve tempo de salvar a própria vida.
Além do trator, foram perdidos 150 hectares de milho. O proprietário da área, Sérgio Ramos, afirma que cerca de 7 mil sacos do cereal deixaram se ser colhidos. A estimativa é que, entre a perda da máquina, dos grãos e da palhada – o que trará consequências futuras – o prejuízo ultrapasse R$ 1 milhão.
O superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do estado (Senar-MT), Otávio Celidônio, a entidade formatou um curso de ensino a distância com noções básicas de como combater o fogo inicial em propriedades rurais. “Agora a gente tem buscado, junto ao Corpo de Bombeiros, uma oportunidade de fazer um curso presencial também, para que os produtores possam não só entender, mas se preparar para combater incêndios”, informa.