De acordo com o analista de mercado Élcio Bento, o início de 2014 foi complicado em termos de preço, como reflexo do mercado internacional.
– O mundo está com mais trigo, os estoques se elevaram e, com isso, os preços internacionais caíram – afirma Bento.
A aquisição de 4,3 milhões de toneladas de trigo de fora do Mercosul estagnou a comercialização da safra gaúcha, segundo o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto. Em meados do ano, a situação teria fica ainda pior para o produtor, quando o governo zerou a Tarifa Externa Comum (TEC) para compras extra-Mercosul, o que corresponderia a um subsídio de 10% em relação ao trigo gaúcho.
– A TEC é algo que pode, deve e foi feita para ser bem administrada. O que ocorreu foi algo digno de uma análise mais profunda e com o aval da Camex, que foi alertada [sobre as consequências] – afirma Sperotto.
Colheita
Apesar da questão do preço, havia a perspectiva de uma safra recorde de oito milhões de toneladas. Mas apenas o Paraná, maior produtor nacional, teve bom resultado. Foram quatro milhões de toneladas colhidas, revertendo a frustração com a safra anterior.
O Rio Grande do Sul, por sua vez, contabilizou prejuízos, com quebras de mais de 30% em Passo Fundo, por exemplo.
Estimulado pela possibilidade de bom rendimento, o produtor gaúcho Vilmar do Carmo aumentou a área de trigo de 50 para 120 hectares. Já na época da colheita, contentava-se com o empate das despesas.
O alto volume de chuvas nos plantios do Rio Grande do Sul fez o grão perder qualidade para a indústria. O Estado colheu apenas 1,7 milhão de toneladas, e, mesmo assim, um milhão não apresentava condições para moagem.
– O trigo do Rio Grande do Sul teve melhora na qualidade, e está avançando em boa direção, mas nem sempre há condições climáticas para isso. O que acontece é que não temos trigo para atender á demanda interna mais sofisticada da panificação – afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria do trigo (Abitrigo), Sérgio Amaral.
Perspectivas
O prejuízo enfrentado no ano passado deixou os produtores com o pé atrás em relação ao plantio de trigo na próxima safra.
– Eu poderia até voltar a plantar trigo, mas teria que trocas a cultivas e me certificar de que haja alguma com boa resistência a doenças foliares – avalia Vilmar do Carmo, de Passo Fundo.
A opinião do engenheiro agrônomo Dirceu Gassen é a de que é preciso organização para minimizar perdas na lavoura. Segundo ele, é possível distribuir a colheita no período de um mês de forma a fugir tanto das geadas quanto do excesso de chuvas.
O ano terminou com a elevação do preço do trigo no mercado internacional, e há expectativa de que permaneçam em alta em 2015. O alerta do agrônomo Élcio Bento é para que o produtor procure não concentrar muito as vendas da safra.