A oferta de peixes no triângulo mineiro ainda não é suficiente diante da demanda do produto e a criação em cativeiro tem sido uma boa oportunidade para produtores da região. Desenvolvida em pequenas áreas, a atividade tem crescido nos últimos anos e pode ser mais rentável do que a pecuária bovina.
Essa diferença o piscicultor Túlio de Castro Merola sentiu na pele, quando trocou, há sete anos, a pecuária de corte pela criação de tilápias. Foram quase dois anos de preparo até a escolha da área e a retirada da licença para explorar o uso da água. Depois vieram os investimentos, como a compra dos tanques, barcos e montagem de estrutura.
Mesmo com tanto trabalho, ele não se arrepende da escolha. “Você tem uma área perto de você, mais resumida, então é muito mais fácil de cuidar do que a bovinocultura, principalmente a extensiva, em que você precisa de muita terra, cuidar do pasto, de cerca. Por esses e outros motivos eu prefiro a criação de peixes”, disse.
Assim como na pecuária, os peixes também apresentam fases distintas ao longo do ciclo produtivo. A primeira delas é conhecida como período de alevinagem, que ocorre logo após a eclosão da larva. Depois vêm os processos de cria, recria e terminação, que são divididos de acordo com o peso dos animais.Todo o ciclo produtivo dura seis meses.
Durante o período de criação, os peixes devem apresentar ganho de peso diário de quatro a cinco gramas, já que o peso de abate varia entre 800 gramas até 1 quilo.
Criação
“Na fase inicial, de 30 até 50 gramas, a gente usa uma ração de 40% de proteína e, em seguida, até 150 gramas, uma ração de 36% de proteína. Na fase seguinte, até 400 gramas, a gente usa uma ração de 32% de 4 a 6 milímetros e, na fase final, de 450 gramas até o abate, a gente usa uma ração de 6 a 8 milímetros de 32% de proteína também”, falou o zootecnista Emerson Assakawa.
A dosagem de alimentos é reajustada toda semana após o exame de biometria e, durante este processo, ocorre também a separação dos lotes para padronizar a produção.
“Na biometria, a gente vai no tanque, pega uma parte dos animais e faz um peso médio. Fazemos isso com uma quantidade de dez a 30 animais por tanque, o que nos ajuda a acompanhar o ganho de peso e fazer reajustes necessários, além de atualizar a previsão de vendas”, completou Assakawa.
Evitando perdas
Ao longo do ciclo produtivo, a taxa de mortalidade varia entre 5% e 10%. Para evitar perdas maiores é preciso realizar o manejo preventivo que muda conforme as estações do ano. Segundo o médico veterinário Rodrigo Faria Souza, algumas atitudes simples podem ajudar na diminuição de prejuízos. “O controle da temperatura ambiente não tem como ser feito, então nós precisamos fazer adequações no nosso sistema de produção, pois a diferença de temperatura influencia no consumo de ração e ganho de peso diário. Nosso manejo varia muito entre o período de verão e inverno: no frio usamos água a 22°C ou 23°C, com uma taxa de crescimento menor. No verão, a gente tem uma temperatura da água de entre 27°C e 28°C e um ganho de peso crescente.”
Uma das vantagens desta atividade é a possibilidade de produzir grandes volumes em pequenas áreas. As instalações de Túlio ocupam uma área de 10 mil metros de lâmina de água, com capacidade de suporte para mais de 1 milhão de peixes. Ao todo, são 200 tanques-rede que produzem quase 15 toneladas de peixe por semana. A maior parte da produção vai para São Paulo e Bahia.
“Quando eu comece, há cinco anos, eu vendia o quilo de tilápia a R$2,50, R$2,70 e hoje eu vendo a R$4,80, R$5,20. Se você eviscerar o filé da tilápia, você agrega ainda mais valor e o preço do quilo pode chegar a R$ 6,50. Esse aumento de preço ocorre pela falta do produto no mercado, onde a demanda é maior do que a oferta”, concluiu o produtor.